GUIOMAR      GUIOMAR



Na sua longa atividade de autor de contos e romances do ambiente urbano do século XIX, no Rio do Segundo Império que ele chama simplesmente: “a Corte”, Machado de Assis indaga com perspicácia o mundo misterioso do universo feminino.
Guiomar, Virgília, Capitú são as protagonistas femininas de tres romances, das quais ele desenha, com um talho
típicamente introspectivo, os carácteres.

Guiomar, protagonista do romance A Mão e a Luva (1874), é uma heroína romântica, que por fim escolhe, com o critério das afinidades eletivas, o homem que de a conduzir ao altar, mas, simúltaneamente, lhe oferece uma vida social decorosa e abastada numa classe social elevada.

Como muitas personagens femininas de Machado de Assis, Guiomar nasce numa familia de origens modestas. Muito cedo perde o pai e a mãe, ficando orfã, e a madrinha, uma baronesa, viúva e de condição social mais alta, provê à sua educação metendo-a num colégio feminino. Enfim, a recebe na sua casa com o carinho de uma mãe, assim preenchendo o vácuo deixado pela morte prematura da sua filha Henriqueta, da mesma idade da afilhada. Em tais circunstâncias, Guiomar a conforta e suporta, demonstrando uma alma ao mesmo tempo cheia de ternura e enérgica, afetuosa e resoluta.

Parece terem as dificuldades da vida temperado o seu caráter.

Da menina solitária e melancólica de outro tempo, em demasia séria para a sua idade, surge uma moça composta e reflexiva, porém dotada de grande força de vontade. Nem siquer lhe faltam o intuito e a sagacidade, juntos à inteligência e flexibilidade. Desde logo ela compreende que deve adaptar o seu comportamento às expectativas da madrinha, uma mãe que vai buscando nos seus gestos a filha perdida, e que, ao mesmo tempo, deve estar em plena harmonia com a sociedade em que entrara.
A educação que recebera,
ainda mais uma certa fineza da alma e a elegância natural, fazem o resto.

A jovem mulher que caminha em solidão ao amanhecer no jardim da baronesa, num esmerado déshabillé, levou à perfeição as qualidades noutro tempo apenas esboçadas.

Nela a beleza estatuária do corpo, sublinhada pelo puro e delicado perfil, com grandes olhos castanhos emoldurados por longas pestanas e os bastos cabelos escuros atados sobre a cabeça com singeleza, se une à força do caráter. Guiomar é uma mulher que sabe o que quiser e que se torna próprio à sua condição. A posse de si mesma é o fruto de uma certa frieza nas ações, que não deixa aparecer as suas emoções e os seus verdadeiros sentimentos, mas, longe de ser uma máscara, revela um grande e avaliado autocontrole.

O potente sentimento do amor, que brota na sua vida através de tres pretendentes, implicando-a contra sua vontade, torna-se o banco de provas da sua personalidade.

Diante da declaração de amor de Estevão, um jovem impulsivo, mas débil, que Guiomar julga imaturo, indiscreto e às vezes pueril, ela mantem uma atitude reservada e altiva, que nem deixa espaços a demasiadas ilusões com respeito ao seu total desinteresse por ele.

Quanto a Jorge, o mundano e presunçoso sobrinho da baronesa, o ânimo dela si divide.
Se bem que veja claramente os limites dele, e no seu coração o julgue superficial acerca dos sentimentos e substancialmente um incapaz, que se deixa facilmente manipular, não ousa manifestar o seu receio, para não quebrantar os sonhos da madrinha, que gostaria de ver os seus futuros herdeiros, Guiomar e Jorge, casados.

As palavras com que Guiomar declara que tem de realizar o desejo da baronesa, que reputa uma segunda mãe, são, porém desmentidas pela atitude interior que promana de toda a sua índole.

No profundo do seu ser, oculto a todos e talvez ainda não chegado a nivel consciente, brota o amor, que Luís Alves, discreto vizinho de casa e futuro deputado, soube suscitar com paciência e perseverança.

O doutor Luís Alves não é só um advogado e homem político que teve sucesso, mas encarna todas as qualidades que uma mulher como Guiomar pode desejar. È decidido e ambicioso, tendo aquela ambição que sustém os passos dos homens fortes, mas ao mesmo tempo é capaz de respeito e dedicação.
Não suplanta a vontade de Guiomar, como faz, pelo contrario, o fingido Jorge, que pede publicamente a mão dela sem antes consulta-la sobre o assunto.

Da parte sua, Guiomar, admirada por tamanha ousadia, sentindo-se humilhada e tratada como um objecto sem faculdade de escolha e destinado a satisfazer os caprichos alheios, há uma reação incrívelmente audaz e moderna: toma a iniciativa. E escolhe Luís Alves.
O bilhete, escrito pela sua mão, que o jovem recebe de noite, é peremptório e inequívoco.
Uma palavra única: “Peça-me”, que é o mesmo que uma de seclaração eletiva, mas ao mesmo tempo revela a vontade de Guiomar de ser o regista da situação.
No jogo das partes, ela reserva a si um papel aparentemente secundario, atribuindo a Luís Alves a tarefa de expor-se, pedindo a sua mão, e deixando à baronesa, para não ofender a sensibilidade dela, a ilusão que aceitaria a
realização dos seus projetos.

Guiomar escolhe as vias do coração.
No momento no qual mostra que sacrifica os seus sentimentos, por afeição e reconhecimento para com a madrinha, já venceu. É a baronesa, a este ponto, que consente, por amor e carinho para com a afilhada, aquilo que Guiomar havia esperado e, com inteligencia e discrição, orientado: o matrimonio com Luís Alves, o homem que ela ama e sente afim a si.

Luís Alves demonstra-se à altura da situação.

Não só secunda a vontade de Guiomar, mas lhe pede para ser sua perfeita aliada na vida e na sociedade.
Um e outra se atraem e se completam recìprocamente,
como a mão e a luva que a recobre.

 



Nella sua lunga attività di scrittore di racconti e romanzi dell’ambiente urbano ottocentesco, nella Rio del Secondo Impero che egli chiama semplicemente
: “la Corte”, Machado de Assis indaga con perspicacia il misterioso mondo dell’universo femminile.
Guiomar, Virgilia, Capitú sono le protagoniste femminili di tre romanzi, delle quali egli disegna, con taglio tipicamente introspettivo, i caratteri.

Guiomar, protagonista del romance La Mano e il Guanto (1874), è una eroina romantica, che alla fine sceglie, con il criterio delle affinità elettive, l’uomo che la condurrà all’altare, ma, nel contempo, le offre una vita sociale decorosa e agiata all’interno di una classe sociale elevata.

Come molti personaggi femminili di Machado de Assis, Guiomar nasce in una famiglia di modeste origini. Rimane ben presto orfana del padre e della madre e la madrina, una baronessa, vedova e di condizione sociale più elevata, provvede alla sua educazione collocandola in un collegio femminile. Infine, la accoglie nella sua casa con tenerezza di madre, colmando così il vuoto lasciato dalla morte prematura della figlia Enrichetta, della stessa età della figlioccia. In tali circostanze, Guiomar la conforta e sostiene, dimostrando un animo allo stesso tempo pieno di tenerezza ed energico, affettuoso e risoluto.

Le difficoltà della vita sembrano aver temprato il suo carattere.

Dalla bambina solitaria e malinconica di un tempo, un po’ troppo seria per la sua età, emerge una giovinetta composta e riflessiva, ma dotata di grande forza di volontà. Né le mancano intuito e sagacia, uniti a intelligenza e flessibilità. Comprende subito che deve conformare il suo comportamento alle attese della madrina, una madre che cerca nei suoi gesti la figlia perduta, e che, allo stesso tempo, deve essere in sintonia con la società di cui è entrata a far parte. L’educazione, ma ancora di più una certa finezza d’animo e l’eleganza naturale, fanno il resto.

La giovane donna che cammina in solitudine di primo mattino nel giardino della baronessa, in un raffinato déshabillé, ha portato a perfezione le qualità un tempo appena abbozzate.

In lei la bellezza statuaria del corpo, sottolineata dal puro e delicato profilo, dai grandi occhi castani ombreggiati da lunghe ciglia, dalla massa dei folti capelli raccolti sul capo con semplicità, si unisce alla forza del carattere. Guiomar è una donna che sa quel che vuole e che si addice al suo stato. La padronanza di sé è il frutto di una certa freddezza nell’agire, che non lascia trasparire le sue emozioni e i suoi veri sentimenti, ma, lungi dall’essere una maschera, rivela un grande e pesato autocontrollo.

Il potente sentimento dell’amore, che irrompe nella sua vita attraverso tre pretendenti, coinvolgendola suo malgrado, diventa il banco di prova della sua personalità.

Di fronte alle profferte amorose di Estevão, un giovane impulsivo, ma debole, che Guiomar giudica immaturo, indiscreto e talvolta puerile, ella mantiene un atteggiamento riservato e altero, che non lascia spazio a soverchie illusioni riguardo al suo totale disinteresse per lui.

Nei confronti di Jorge, il mondano e presuntuoso nipote della baronessa, il suo animo si divide.
Benché ne veda chiaramente i limiti, e in cuor suo lo giudichi superficiale nei sentimenti e sostanzialmente un incapace, che si lascia facilmente manipolare, non osa manifestare la sua avversione per non infrangere i sogni della madrina, che ambirebbe vedere i suoi futuri eredi, Guiomar e Jorge, uniti in matrimonio.

Le parole con cui Guiomar dichiara di voler realizzare il desiderio della baronessa, che considera una seconda madre, sono, però, smentite dall’atteggiamento interiore che promana da tutta se stessa.

Nel profondo del suo essere, celato a tutti e forse non ancora giunto a livello cosciente, germoglia l’amore, che Luis Alves, discreto vicino di casa e futuro deputato, ha saputo suscitare con pazienza e tenacia.

Il dottor Luis Alves non è solo un avvocato e uomo politico di successo, ma incarna tutte le qualità che una donna come Guiomar può desiderare. È risoluto e ambizioso, di quella sana ambizione che sostiene i passi degli uomini forti, ma allo stesso tempo è capace di rispetto e dedizione.
Non scavalca la volontà di Guiomar, come fa, invece, il lezioso Jorge, chiedendo pubblicamente la sua mano senza consultarla prima a riguardo.

Dal canto suo, Guiomar, sorpresa da tanta impudenza, sentendosi umiliata e trattata come un oggetto privo della facoltà di scelta e destinato a soddisfare i capricci altrui, ha una reazione incredibilmente audace e moderna: prende l’iniziativa. E sceglie Luis Alves.
Il biglietto, scritto di suo pugno, che il giovane riceve nottetempo, è perentorio e inequivocabile.
Una sola parola: “Chiedimi (in sposa)”, che equivale a una dichiarazione di elezione, ma allo stesso tempo rivela la volontà di Guiomar di essere il regista della situazione.
Nel gioco delle parti, ella riserva a sé un ruolo apparentemente secondario, attribuendo a Luis Alves il compito di esporsi, chiedendo la sua mano, e lasciando alla baronessa, per non offendere la sua sensibilità, l’illusione che accetterà di realizzare i suoi progetti.

Guiomar sceglie le vie del cuore.
Nel momento in cui mostra di sacrificare i suoi sentimenti, per affetto e riconoscenza verso la madrina, ha già vinto. È la baronessa, a quel punto, a consentire, per amore e tenerezza verso la figlioccia, ciò che Guiomar aveva sperato, e, con intelligenza e discrezione, orientato: il matrimonio con Luis Alves, l’uomo che ama e sente affine a sé.

Luis Alves si dimostra all’altezza della situazione.

Non solo seconda la volontà di Guiomar, ma le chiede di essere la sua perfetta alleata nella vita e nella società.
L’uno e l’altra si attraggono e si completano a vicenda, come la mano e il guanto che la ricopre.

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