A ILHA  DOS  AMORES

 

   L'ISOLA   DEGLI  AMORI

 

No poema de Camões, Os Lusíadas, a celebração do povo português, que foi histórico protagonista de façanhas desmedidas, como o descobrimento do caminho da Índia e a conquista do Oriente, termina com uma invenção literária fantástica e inusitada: a criação da Ilha dos Amores, que Vénus fez surgir do mar para acolher e sagrar como heróis os valorosos nautas portuguêses, conferindo-lhes a imortalidade.

A viagem material de Vasco da Gama, iniciada a Lisboa em 1497, prossegue até Moçambique e Melinde, chega a Calecut, havendo alcançado a meta, e é de regresso: desde Calecut, na costa ocidental da Índia, em direção de Lisboa.

Paralelamente, na narração camoniana, si conclue a epopeia portuguesa que conta a viagem ideal da gente lusitana. Das origens mitologicas (Luso) e a primeira manifestação de independência (Viriato), até a constituição do reino de Portugal por D. Henrique de Borgonha; em seguida, pelos sucessores dele, os reis da 1ª dinastia até D. Fernando e os reis da 2ª dinastia, a Casa de Avis, desde D. João I até D. Manuel I, o “Venturoso”, que promoveu a expedição de Vasco da Gama, pioneiro do caminho marítimo para a Índia.

A viagem do Gama é também a metáfora da vida do fidalgo, o soldado de nobre linhagem e qualidades heróicas, que se ocupa na sua própria existência a fim de tornar grande e poderoso o Reino português, ilustrando a pátria com seus feitos e prestando, com conselhos bem cuidados e a força do seu braço, um serviço incomparável e honrado ao seu rei.
Os feitos heróicos dos valorosos Portugueses que combateram no Continente, para defender e engrandecer a pátria, estão representados nas bandeiras dos heróis, que Camões descreve e explica, por boca de Paulo da Gama, em frente a Calecut.

Ao mesmo tempo a Ilha dos Amores nada mais é senão a alegoria da imortalidade do comportamento heróico, que a boa Fama preserva da corrupção dos valores não verdadeiros constituídos pela ambição pessoal, pela escravidão interior da ignavia, pela cobiça de riquezas e poder, que podem conduzir o homem à tirania.
Melhor é merecer honras sem as ter que possui-las sem as merecer, declara Camões.

A narração d’Os Lusíadas há início na rivalidade mitológica entre Vénus, protetora dos Portugueses, e Baco, inimigo deles. É Vénus quem desvenda e torna vã, em várias ocasiões, as ciladas de Baco contra a armada portuguesa; é Vénus quem, querendo premiar os navegantes escapados das ondas fatais e dos inimigos, pede a ajuda do seu poderoso filho Cupido.
Este si alia com a Fama, que celebra com as suas mil bocas os feitos dos Portugueses e junto com ela vem a Credulidade. O clamor das façanhas heróicas muda o coração dos homens e abre a fresta pela qual Cupido vai lançando setas de amor sobre as ignaras Oceânidas e a esquiva Tétis, rainha delas.

O mar ressoa pelos suspiros das ninfas feridas, enfermas de amor por aqueles que não conhecem, mas dos quais ouviram falar.
Vénus traz a medicina: eis no horizonte as naus portuguesas, que inflamam o coração das ninfas, enquanto estas vão acolhendo-se na ilha.
Fervilham os preparativos ao encontro e Vénus distribui conselhos eróticos, enquanto faz vogar como um barco a amena ilha na direção das naus portuguesas de volta à pátria, tornando-a imóvel, porém, quando nesta se pousa o olhar dos navegantes.
A aurora rompe naquele momento e a ilha aparece paradisíaca com doces outeiros, rica de vegetação e de água, da qual precisam os nautas para a longa viagem de regresso.
Desembarcam, então, os Portugueses como segundos Argonautas e entre pequenos lagos, bosques e aprazíveis vales os recebem as ninfas, bem ensinadas na arte da sedução pela mais experta das mestras, Vénus, que trama enganos.

Inspirado pela tradição que diz que o animo feminino é habil em dissimular o que mais intensamente deseja, Camões conta, com  linguagem suavemente alusiva e olho divertido e irónico, o triunfo da sensualidade portuguesa sujeita a prova pelas maliciosas sedutoras.

Enfim, feitos contentes os ardentes sentidos que a deusa do Amor havia provocado (ninguém julgue, pois, sentencia Camões, melhor é exprimentá-lo que julgá-lo / mas julgue-o quem não pode exprimentá-lo), cumprem-se os eternos esponsais entre os nautas e as ninfas do oceano. Tendo um a mão da outra, os amantes pronunciam as palavras sagradas do rito nupcial, prometendo-se eterna companhia em vida e morte. O contrato é feito.
Desde agora os navegadores portugueses entram na família dos semideuses e são pelo Fado destinados à imortalidade, porque imortais são as suas façanhas heróicas.

Tétis, a deusa do mar e rainha das ninfas oceânidas, recebe dignamente o capitão Vasco da Gama, não escondendo a sua natureza divina e revelando como, por querer do Fado, a ela pertence o dever de mostrar-lhe, num misterioso globo, os segredos das terras e dos mares não ainda navegados, que vão a ser objectos dos futuros descobrimentos da nação portuguesa.
Depois o leva no seu palácio, no cume dum alto monte divino, onde o dia vai passando entre deleitosas volúpias e jogos amorosos, que compensam os cansaços dos heróis. 

Eis a explicação por Camões do sentido alegórico da Ilha dos Amores: a glória conquistada com feitos audazes e honrados merece no fim um premio, a imortalidade, da qual as ninfas oceânidas, Tétis e a Ilha dos Amores são figuras.
Também os deuses do Olimpo, que o mundo fez divinos pelos seus feitos sobre-humanos, foram nas origens homens mortais.
Portanto, os homens de clara fama busquem os valores autênticos, que provêm do comportamento correto e virtuoso ao serviço da pátria e do seu rei, abandonando honras vãs e falsas riquezas.

Camões celebra então, no canto X d’Os Lusíadas, a apoteose dos futuros heróis portugueses, que viriam a cumprir feitos gloriosos, instaurando o Império português do Oriente.
A narração, na qual se alternam almirantes e vice-reis da Índia, acontece pelo cântico profético duma ninfa, durante um banquete oferecido por Tétis aos heróis portugueses no Palácio dos Imortais.
O teatro das grandes conquistas portuguesas na Ásia e na África e das não menos célebres explorações, manifesta-se, perante os olhos de Vasco da Gama, através da representação da estrutura do Universo numa resplandescente esfera, que mostra os nove céus e a Terra segundo o sistema de Ptolomeu.
Seguem-se as narrativas das grandes explorações portuguesas até o descobrimento do Brasil e a façanha de desmedida audácia de Fernão de Magalhães.
Assim se completa a epopeia da grande Nação portuguesa, narrada pelo seu ilustre filho, que a conheceu e cantou com a espada numa mão e noutra a pena.

   

 

 

Nel poema di Camões, I Lusiadi, la celebrazione del popolo portoghese, che fu storico protagonista di imprese straordinarie, come la scoperta della via delle Indie e la conquista dell’Oriente, si conclude con una fantastica e inusitata invenzione letteraria: la creazione dell’Isola degli Amori, che Venere fece sorgere dal mare per accogliere e consacrare come eroi i valorosi navigatori portoghesi, conferendo loro l’immortalità.

Il viaggio materiale di Vasco da Gama, cominciato a Lisbona nel 1497, prosegue fino a Mozambico e Malindi, giunge a Calicut, avendo raggiunto la meta, ed è sulla via del ritorno: da Calicut, nella costa occidentale dell’India, in direzione di Lisbona.

Parallelamente, nella narrazione camoniana, si conclude l’epopea portoghese che racconta il viaggio ideale della gente lusitana. Dalle origini mitologiche (Luso) e dalla prima manifestazione di indipendenza (Viriato), alla costituzione del regno di Portogallo ad opera di Enrico di Borgogna e dei suoi successori, i re della 1ª dinastia fino a Fernando di Borgogna e i re della 2ª dinastia, la Casata di Avis, da Giovanni I a Emanuele I, il “Fortunato”, che promosse la spedizione di Vasco da Gama, pioniere della via marittima per le Indie.

Il viaggio di Gama è anche la metafora della vita del fidalgo, il soldato di nobile lignaggio e qualità eroiche, che spende la propria esistenza per rendere grande e potente il Regno portoghese, illustrando la patria con le sue gesta e prestando con oculati consigli e la forza del suo braccio un incomparabile e onorevole servigio al suo re.
Le gesta eroiche dei valorosi Portoghesi che combatterono sul Continente per difendere e fare grande la loro patria, sono rappresentate nelle bandiere degli eroi, che Camões descrive e spiega, per bocca di Paulo da Gama, davanti a Calicut.

Allo stesso tempo l’Isola degli Amori altro non è che l’allegoria dell’immortalità del comportamento eroico, che la buona Fama preserva dalla corruzione dei disvalori costituiti dall’ambizione personale, dalla schiavitù interiore dell’ignavia, dall’avidità di ricchezze e di potere, che possono condurre l’uomo alla tirannide.
Meglio meritare onori e non averli che averli senza merito, dichiara Camões.

Le vicende narrate ne I Lusiadi prendono l’avvio dalla rivalità mitologica tra Venere, protettrice dei Portoghesi, e Bacco, loro nemico. È Venere che sventa, in più occasioni, le insidie di Bacco contro l’armata portoghese; è Venere che, volendo premiare i naviganti scampati alle onde fatali ed ai nemici, chiede l’aiuto del suo potente figlio Cupido.
Questi si allea con la Fama, che celebra con le sue mille bocche le imprese dei Portoghesi ed è accompagnata dalla Credulità.Il clamore delle gesta eroiche muta il cuore degli uomini ed apre la breccia, per la quale Cupido colpisce con frecce d’amore le inconsapevoli ninfe, figlie di Oceano, e la schiva Teti, loro regina.

Il mare risuona dei sospiri delle ninfe ferite, malate d’amore per coloro che non conoscono, ma di cui hanno sentito parlare.
Venere porta il rimedio: ecco all’orizzonte le navi portoghesi, che infiammano il cuore delle ninfe, mentre esse convengono all’isola.
Fervono i preparativi all’incontro e Venere dispensa consigli erotici, mentre sospinge come un natante l’amena isola sulla rotta delle navi lusitane di ritorno in patria, rendendola però immobile quando su di essa si posa lo sguardo dei naviganti.
L’aurora irrompe nel cielo in quel momento e l’isola appare paradisiaca con dolci colline, ricca di vegetazione e di acqua, di cui abbisognano i navigatori nel lungo viaggio di ritorno.
Sbarcano, dunque, i Portoghesi, come secondi Argonauti e tra laghetti, boschi e amene vallate li accolgono le ninfe, rese edotte nell’arte della seduzione dalla più esperta delle maestre, Venere, che inganni intreccia.

Attingendo alla tradizione che vuole l’animo femminile abile nel dissimulare ciò che più intensamente desidera, Camões racconta, con linguaggio garbatamente allusivo e occhio divertito e ironico, il trionfo della sensualità portoghese messa alla prova dalle maliziose seduttrici.

Infine, appagati gli ardori dei sensi che la dea dell’Amore aveva suscitato (nessuno giudichi, poiché, sentenzia Camões, meglio è provarlo più che giudicarlo, / ma lo giudichi chi non lo può provare), si compiono gli eterni sponsali tra i marinai e le ninfe dell’oceano. Tenendo l’uno la mano dell’altra, gli amanti pronunciano le parole sacre del rito nuziale, promettendosi  eterna compagnia in vita e in morte. Il contratto è fatto.
Da questo momento i navigatori portoghesi entrano nella famiglia dei semidei e sono destinati dal Fato all’immortalità, poiché immortali sono le loro eroiche imprese.

Teti, la dea del mare e regina delle ninfe oceanine, accoglie degnamente il capitano Vasco da Gama, non nascondendo la sua natura divina e rivelando come, per volere del Fato, a lei spetti il compito di mostrargli, in un misterioso globo, i segreti delle terre e dei mari non ancora navigati, che saranno oggetto delle future scoperte della nazione portoghese. Lo conduce poi nel suo palazzo, in cima a un alto monte divino, dove la giornata trascorre tra deliziosi piaceri e giochi amorosi, che compensano le fatiche degli eroi.

Ed ecco spiegato da Camões il senso allegorico dell’Isola degli Amori: la gloria conquistata con audaci imprese e onori merita infine un premio, l’immortalità, di cui le ninfe oceanine, Teti e l’Isola degli Amori sono figure.
Gli stessi dei dell’Olimpo, che il mondo deificò per le loro gesta sovrumane, furono in origine uomini mortali.
Perciò gli uomini di chiara fama ricerchino i valori autentici, che derivano dal comportamento retto e virtuoso al servizio della patria e del proprio re, abbandonando onori vani e false ricchezze.

Camões celebra poi, nel canto X de I Lusiadi, l’apoteosi dei futuri eroi portoghesi, che compiranno imprese gloriose, instaurando l’Impero portoghese d’Oriente.
La narrazione, in cui si avvicendano ammiragli e viceré delle Indie, avviene per mezzo del canto profetico di una ninfa, durante un banchetto offerto da Teti agli eroi portoghesi nel Palazzo degli Immortali.
Il teatro delle grandi conquiste portoghesi in Asia e in Africa e delle non meno celebri esplorazioni, si manifesta, agli occhi di Vasco da Gama, attraverso la rappresentazione della struttura dell’Universo in una rutilante sfera, che mostra i nove cieli e la Terra secondo la teoria tolemaica.
Segue la narrazione delle grandi esplorazioni portoghesi fino alla scoperta del Brasile e all’impresa di audacia smisurata di Fernando di Magellano.
Si completa cosi l’epopea della grande Nazione portoghese, narrata dall’inclito figlio, che la conobbe e cantò con la spada in una mano e nell’altra la penna.             

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