AUTO DA BARCA DO INFERNO - TRAMA

 

  AUTO DELLA BARCA DELL'INFERNO - TRAMA



Gil Vicente imagina que as almas quando partem dos seus corpos mortais, cheguem a um profundo braço de mar, aonde encontram-se duas barcas: uma para o Inferno, conduzida pelo Diabo e uma outra para o Paraíso, dirigida por um Anjo. Ao longo da mesma ribeira as almas penitentes expiam as suas culpas para poder, uma vez purificadas, entrar na barca do Paraíso.


                 
AUTO DA BARCA DO INFERNO

Figuras: Arrais e Barqueiro do Inferno - Diabo; Arrais e Barqueiro do Céu - Anjo; Fidalgo; Onzeneiro; Parvo; Sapateiro; Frade; Moça (Florença); Alcoviteira (Brízida Vaz); Judeu; Corregedor; Procurador; Enforcado; quatro Cavaleiros.

                                     A Trama

   Arrais do Inferno
O Arrais do Inferno desde a popa da sua barca convida os passageiros a entrar, praguejando e chamando-os, enquanto dá ordem com palavras ásperas de içar a vela.

    Fidalgo
Aproxima-se um Fidalgo que hesitando pergunta para onde irá aquela embarcação.
O Diabo lhe responde que vai prò Inferno. O Fidalgo, fingindo indiferença, brinca sobre a destinação da barca e põe em dúvida que existam passageiros. Mas, quando o Barqueiro convida-o a aproximar-se ao cais, declarando que lhe parece ser o tipo adapto a viagem, o Fidalgo defende-se, invocando a seu favor as contínuas orações feitas pelos vivos para sufragar a sua alma.
O Arrais do Inferno, escarnecendo, põe em dúvida a existência de orações e julga-as ineficazes no caso destas se dizerem, em particular depois de uma vida dedicada aos prazeres. Em seguida exorta peremptoriamente o Fidalgo a embarcar-se, lembrando-lhe que seu pai já o tinha feito antes dele e lhe oferece a mesma cadeira. O Fidalgo fica interdito e começa a guaguejar.
Mas o Diabo o persegue: o Fidalgo há-de receber naquele lugar o tratamento que se merece em função da vida vivida antes de morrer; no momento do traspasso deu um sinal ao Diabo, que agora está pronto. Querendo subtrair-se ao seu destino, o Fidalgo dirige-se, então, à outra barca ancorada ali perto e guiada por um Anjo que canta.

   Arrais do Céu
O Fidalgo adquire a certeza que aquela é a barca do Paraíso e pede com arrogância de subir, invocando os méritos do seu grau de nobreza.
O Anjo resolutamente lhe responde que não tem lugar naquela barca para quem foi tirano e possui de si mesmo uma desmedida consideração; e já que em vida o Fidalgo desprezou os menores, agora será julgado tanto menos quanto mais foi orgulhoso.
O Barqueiro Infernal, com expressão cativante, canta o seu pregão: "Vos mi veniredes a la mano, a la mano me veniredes, e vos veredes peixes nas redes".
O Fidalgo parece render-se à ideia de ir para o Inferno, se bem que, por ironia do fado, nunca houvesse acreditado na sua existência. Justifica-se dizendo que confiou demais na sua condição de nobreza, sem dar-se conta que perdia a sua alma. Porém, faz ainda uma tentativa de convencer o Diabo a deixá-lo ir: gostaria de voltar entre os vivos para consolar a sua amada, a qual, ficando desesperada, ameaça de matar-se pela dor da sua ausência.
Tal argumento não persuade o Barqueiro Infernal que com sarcasmo põe em dúvida as promessas dos amantes e até mesmo que ela tenha   sequer amado aquele namorado sandeu; então, revela ao Fidalgo que a sua dama logo já encontrou consolação.
Ao Fidalgo não resta nada mais que embarcar-se. Quanto à cadeira de honra, o Barqueiro Infernal dá ordem de levá-la embora, observando que o Fidalgo bem cedo haverá uma outra cheia de dolorosas pontas e muito mais incómoda.

   Onzeneiro
Chega um Onzeneiro, que pede informações sobre a destinação daquela barca. O Diabo o recebe como um seu parente, repreendendo-o pelo atrazo já que há muito era esperado.
O Usurário justifica-se protestando que teria demorado ainda mais no lugar aonde estava, muito ocupado em apanhar mais dinheiro, porém o Tempo lhe deu quebranto.
Com ironia o Barqueiro finge de surpreender-se com o facto de que o dinheiro não o tenha livrado daquele feitiço, entretanto o Onzeneiro se apressa a esclarecer que não lhe sobrou nem o bastante para pagar a passagem.
Enfim, apesar da insistência do Barqueiro, nega-se a entrar naquela barca quando entende que vai para o Inferno.
Então, se aproxima à barca guiada pelo Anjo, que lhe pergunta aonde quer ir. Mas quando escuta que o Onzeneiro há-de ir para o Paraíso, o Anjo torna a expedi-lo prá quem já lhe enganou (o Diabo), dizendo que a bagagem que o Onzeneiro leva no coração é tão grande que encheria todo o espaço da barca do Céu.
De longe o Diabo, escarnecendo, diz ao Anjo que não é conveniente embarcar tanto peso.
O Onzeneiro retorna ao cais aonde está a barca do Inferno e avisa o Barqueiro que quer voltar entre os vivos para trazer o seu dinheiro, lamentando-se porque o Barqueiro do Céu o havia humilhado pois lhe parecia que ele vinha sem nada.
O Diabo põe fim a todas as dúvidas e força-o a embarcar-se na barca Infernal, quer queira quer não queira, para ir servir àquele que sempre o ajudou nos seus negócios.
Por um instante o Onzeneiro dá-se conta da sua cegueira espiritual, pois, com assombro, descobre que na mesma barca na qual há-de embarcar encontra-se já um seu cliente: o Fidalgo.

   Parvo
Então, a este ponto, chega um Parvo, que dirigindo-se ao Arrais Infernal, folgando com impertinência, pergunta de quem é a barca dos tolos. O Barqueiro entra no jogo e responde que é a sua (do Parvo).
Em seguida o estimula a embarcar-se, porém o Parvo, cheio de suspeitas, antes de entrar quer certificar-se do destino daquela barca.
No começo não compreende bem as indicações do Barqueiro, mas logo que entende que aquela barca dirige-se realmente para o Inferno, prorrompe numa interminável série de facécias, além de insultos engraçados dirigidos ao seu interlocutor infernal. Chama-lhe de cornudo, beiçudo, antrecosto de carrapato, sapato, marido de uma tinhosa que há de parir um sapo encima dum guardanapo, furta cebolas, scomungado nas igrejas, burrego, ratinho da giesteira. Insulta-o muitas vezes, ameaçando de dar-lhe uma surra e ainda por cima chamando-lhe de grulha, perna de cigarra velha, rabo de forno de telha e outras zombarias. E depois dirige-se a barca da Glória, aonde pede a passagem ao Arrais do Céu, o qual lhe pergunta quem é. O Parvo responde que não é ninguém. Tal resposta persuade o Anjo a recêbe-lo na barca do Paraíso, pela sua absoluta singeleza que o conserva longe de todas as maldades.


   Sapateiro
Vem um Sapateiro carregado de moldes de sapatos, que dirigindo-se ao Barqueiro Infernal, apresenta-se como um santo homem e honesto trabalhador. Porém, quando sabe que a destinação da viagem é a terra dos danados, pergunta com convicção aonde está o embarcadouro para aqueles que morreram confessados.
O Barqueiro Infernal corta o discurso dizendo que esta é a barca que lhe serve. O Sapateiro acrescenta que além de haver-se confessado também comungou.
Cada vez que o Diabo o desmente, lembrando-lhe como viveu, roubando com o seu mister e logrando o zé-povinho por trinta anos, o Sapateiro exibe a sua devoção além de outros méritos: as missas que êle tinha ouvido, as ofertas em dinheiro e as orações em sufrágio da sua alma.      O Barqueiro Infernal contesta que ouvir missa e roubar leva direito ao Inferno, e quanto aos dinheiros das ofertas, nunca foram devolvidos à quem foram roubados.
Sem ter mais argumentos, o Sapateiro dirige-se à barca do Paraíso pedindo de ser transportado. O Anjo lhe diz que a carga que traz o impede de embarcar. O Sapateiro trata de diminuir a entidade da sua bagagem, observando que se poderia arrumar em qualquer canto da barca e então si apela àmisericórdia de Deus num tom de lamento. Mas o Anjo não se comove e indica-lhe a barca Infernal, aonde vão as almas daqueles que habitualmente são ladrões. Acrescenta que sómente aqueles que viveram em modo correto serão recebidos na barca do Paraíso e que o nome do Sapateiro já está escrito no registro dos danados.

    Frade, Moça (Florença)

Entra um Frade dançando e cantarolando, com uma jovem pela mão. Em resposta ao Arrais do Inferno que lhe pergunta que coisa está fazendo, o Frade saúda com o Deo Gratias e diz que é cortezão. Com ar dissimulado o Barqueiro lhe pergunta se conhece outros bailes. O Frade declara que não poderia ser de outra maneira. Mas quando o Diabo quer saber se aquela moça esteja com ele e se há-de entrar na barca, o Frade titubeia.   O Barqueiro Infernal o acossa. Depois de ter feito alusão às disciplinas impostas no sagrado convento aos confrades que cairam em error, convida-o a embarcar-se, para andar naquele lugar onde arde o fogo eterno, do qual não teve nenhum temor, vivendo na mundanidade. O Frade, jurando, finge de não entender. Além disso, em nome do hábito que veste, afirma a sua virtude, maldizendo e manifestando a sua grande surpresa à ideia de sofrer a condenação divina, não estipulada na sua avença religiosa.
Com paciente ironia, o Arrais do Inferno apressa o embarque doFrade, o qual, porém, ainda tem um argumento para fazer-se perdoar dos prazeres e do amor pela moça: os salmos e as preces rezadas. Mas o Barqueiro, observando a sua devoção ao casamento invés que à Deus, replica que ele não pode escapar ao seu fado.
O Frade busca ainda de encanta-lo, citando a sua dignidade eclesiástica e a sua habilidade na defesa com a espada. Em seguida, subtilmente adulado pelo Diabo, que excita o seu ardor, o hábil espadachim si exibe numa lição de esgrima, entre alçadas, paradas, guardas e fendentes. Depois emite sentença, dizendo que um frade com tal habilidade por certo não pode ir para o Inferno.
Enfim, aparentando desgosto pela descortesia recebida, prende a moça pela mão e dirigem-se à barca da Glória. Ali chegando, o Frade saúda com o Deo Gratias e dando-se ares soberbos pede o embarque para ele e para Dona Florença.
O Anjo cala, mas do fundo da barca do Céu ouve-se a voz do Parvo que em maus modos manda embora o Frade e a sua bela presa.
Os espera o Arrais do Inferno.

   Alcoviteira (Brízida Vaz)
Chega à barca do Inferno uma Alcoviteira, chamada Brízida Vaz e chama a alta voz.
O Barqueiro, surpreso porque ela só agora acaba de chegar, convida-a   a entrar na barca e sarcástico comenta o seu tremebundo arrecear.
À pergunta se traz muita bagagem, a Alcoviteira faz o elenco dos númerosos artifícios indispensáveis ao seu mister, que leva consigo: virgos postiços, eficazes feitiços, mentiras, enleios e mais jóias roubadas e guarda-roupas para esconder-se. Além disso, tem também uma comoda carroça com o assoalho de cortiça e cheio de almofadas,para a sedução. A maior carga da bagagem são ainda as moças em grande número que ela vendia para tirar altos lucros.
Convidada pelo Arrais a entrar na barca que vai para o Inferno, Brízida Vaz diz que há de ir para o Paraíso. Considera-se uma mártir, pelo menos por tudo aquilo que teve de suportar: açoutes, humilhações que não têm iguais. Aliás, acrescenta, se andasse ao fogo infernal, quantos outros teriam de segui-la...
Então, toma a decisão de ir à barca do Céu e pede a prancha.
O Anjo mostra a sua perplexidade.
A Alcoviteira usa todas as suas artes para convencê-lo a deixá-la entrar. Suplica-o ardentemente; apresenta-se perante ele como Brízida a Preciosa e menciona o mister de alcoviteira que cuidava a beleza das moças e criava meninas para os cónegos do Bispado.
Depois o abranda cheia de dengos e si declara apostolada, pura como um anjo, santa e acrescenta que muitas cachopas foram por ela convertidas e que nenhuma se perdeu. O Céu pode confirmar que todas encontraram o seu senhor. O Anjo escuta a enxurrada de palavras, as julga importunas e petulantes, e diz-lhe em modo resoluto que não pode entrar na sua barca. Então a Alcoviteira desiludida volta ao Arrais do Inferno, o qual diz que se ela tivesse vivido uma vida santa agora sentiria os efeitos.


   O Judeu
Chega um Judeu com um bode às costas e pede ao Arrais do Inferno de embarcá-los a pagamento.
O Barqueiro recebe-o em maus modos, comentando sarcástico que não pensa em transportar cornudos. O Judeu fica perplexo diante de tal recusa, visto que si pergunta como poderia entrar sem o bode (expiatório). Portanto, insiste aumentando a oferta em dinheiro, porém sem resultados: nem ele nem o cabrão podem entrar na barca.
Então recorre ao Fidalgo e com uma ponta de adulação chamando-o: "Senhor Meirinho", pede permissão para entrar na barca, acendendo assim a cólera do verdadeiro patrão.
Mas o Judeu, dando ao Fidalgo o titulo de Corregedor, pede com arrogância que aquele sandeu seja castigado e injuria o Barqueiro com uma enfiada de vivazes vitupérios.
A este ponto, intervem na discussão o Parvo que candidamente pergunta ao Judeu se furtou aquela chiba, chamando-o ao mesmo tempo de cabrão e integrando as palavras com outros fantasiosos e improváveis epítetos. Então, quando si dá conta que o Arrais do Inferno quer desembaraccedil;ar-se do Judeu, expedindo-o à barca da Glória, o Parvo carrega a mão, enumerando todas as más acções cometidas, segundo a opinão dele, pelo Judeu. O Arrais Infernal põe fim à discórdia mandando embora o Judeu e o seu bode.

    Corregedor
Em seguida, chega à barca do Inferno um Corregedor; traz consigo uma grande quantidade de papeis dos processos. O Barqueiro alude ao seu gosto pela caça e veladamente à corrupção que êle praticava no exercício das suas funções, vendendo-se por duas perdizes. Assim, convida-o a embarcar-se para o Inferno.
O Corregedor protesta a irregularidade daquele pedido, sentenciando num latim estropiado, que não é conforme ao Direito, já que ele é um corregedor e não um réu. O Arrais afirma o contrario e a conversação segue com contínuas citações em latim macarrónico duma e doutra parte. O Corregedor então rejeita a viagem e o barqueiro e vai em busca dum meirinho do mar, que não tem. Aí tenta de intimidar o Diabo citando a autoridade que provém do Direito e observa que os comandos do Barqueiro não têm nenhuma eficácia sobre as Leis.
O Barqueiro, com ironia, lembra-lhe que roubou e que o furtar é vento para as velas e que os papeis dos processos, que o Corregedor traz consigo, poderiam ser uma boa isca para o fogo infernal, porque julgou com malícia.
O Corregedor declara que ele sempre procedeu em maneira imparcial na administração da justiça e imputa à sua mulher as culpas de haver aceitado as perdizes como dádivas.
O Barqueiro, então, enumera as suas culpas: não teve temor de Deus e enriqueceu com o suor dos pobres lavradores ignorantes, cujas queixas não quiz ouvir. O Corregedor, com a arrogância de quem sabe mais que o diabo, expõe o principio segundo o qual as dádivas quebram penhas e daí o Direito nada vale quando os juizes estão peitados. O Arrais   exorta-o a dirigir-se para os obscuros Inferos, aonde já estão escrivãos e literatos sabichões.

    Procurador
Vem um Procurador, que o Corregedor saúda como um antigo conhecido. Com tom melífluo o Arrais do Inferno convida-o a entrar na barca, chamando-o: "Bacharel Doutor". O Procurador pergunta-lhe para onde vai levar os outros passageiros e assim sabe que estão destinados às penas infernais. Declara então que vai entrar noutra barca, que tem melhor catadura.
O Corregedor intervem na discussão e pergunta-lhe se si confessou. O Procurador réplica que não tinha previsto que a sua dor o levasse a morte. O Corregedor diz que, ao invés, ele confessou-se, mas não revelou ao confessor tudo aquilo que tinha roubado, para não haver de restitui-lo a fim de obter a absolvição.
O Arrais do Inferno, que escuta impassível a conversaçâo, os apressa ao embarque, porém o Corregedor responde que eles não podem  embarcar-se enquanto vão esperando a misericórdia de Deus.
O Procurador e o Corregedor, então, dirijem-se ao Barqueiro do Céu suplicando-o de transporta-los. Mas o Anjo lhes recorda como aparentavam eqüidade nas sentenças com palavras enganadoras e nota como agora sabem falar com eficácia a favor da própria causa, sendo cientes.
Ouve-se a voz do Parvo, comentando em latim macarrónico que estes que agora rogam com tanta insistência, rapinaram os Céus e espoliaram os perdigões apanhando as perdizes; demais, ofenderam a religião. A voz alta então, o Parvo chama os beleguins para que os prendam.
O Anjo enfim declara que a Justiça Divina estabeleceu que o Corregedor e o Procurador venham embarcados na barca do inferno.
Os juristas conformam-se e entram na barca dos danados aonde encontram Brízida Vaz, a Alcoviteira, que ambos conhecem.
Mas esta parece desagradar o encontro com o Corregedor, já que o desassossego a invade, enquanto lembra-se das perseguições judiciárias sofridas durante a sua vida de alcoviteira. Em seguida, escarnecendo, pronúncia o nome dum outro seu ilustre cliente e provável companheiro da viagem.

    Enforcado
Chega um Enforcado. O Diabo o incita a entrar na barca do Inferno, perguntando-lhe que cousas lhe contou Garcia Moniz.
O Enforcado diz que é muito bem-aventurado, pois que o Tesoureiro da Moeda de Lisboa (Garcia Moniz) lhe asseverou que quem rouba como êle fez e depois morre enforcado, torna-se santo. Com condescendência o Arrais do Inferno convida-o a entrar na barca para remar até as portas do Inferno.
Parecendo-lhe que o Diabo não esteja persuadido pelas suas boas razões, o Enforcado diz ainda que o Tesoureiro, Garcia Moniz, falou-lhe ao pé-do-ouvido, temperando as revelações com o latim.
Disse que Deus teria recebido com agrado que o enforcado fosse mesmo êle e que justo para isso é que êle nasceu e que para o seu bem foi escolhido pelo Senhor e entregue aos beleguins. Além disso, Garcia Moniz confiou-lhe que a forca e a cadeia do Limoeiro em Lisboa, era o lugar destinado aos escolhidos. E que ali haviam muitos.
Fingindo compartilhar com êle, o Barqueiro Infernal pergunta ao enforcado se isso lhe agradasse ou não.
Porém, o Enforcado lamenta-se que com o baraço no pescoço os sermões são inúteis. Mas insiste afirmando que lhe foi prometido que no momento da morte na forca teria ido sem demora para o Paraíso, ali aonde se come cada dia pão e mel.
Acrescenta que ninguém lhe havia falado em ribeira dos penitentes, nem sequer de barqueiros ou barqueiras que sejam.
A este ponto, o Enforcado começa a pensar que talvez tenha sido enganado. O Diabo, mostrando algum interesse, lhe pergunta se o seu instigador tinha falado sobre o Purgatório.
O Enforcado lembra-se que Moniz lhe havia falado que a cadeia de Lisboa era certamente o Purgatório e que as torturas que recebeu eram orações para os finados e missas gregorianas.
O Arrais do Inferno convida-o a embarcar-se sem mais espera, porque não tem mais nada que fazer. Logo, vendo que está em seco o batel, dá ordem a todos os passageiros para desembarcar.

     quatro Cavaleiros
Vêm cantando quatro Fidalgos, Cavaleiros da Ordem de Cristo, exortando assim as almas que estão em atraso a entrar na barca para o Paraíso: "À barca, à barca, mortais; / porém na vida perdida / se perde a barca da vida".
Os espera o Arrais do Céu, porque são livres de todos os maus e morreram lutando pela Fé.

 

 

 

Gil Vicente immagina che le anime, quando si separano dal loro corpo mortale, giungano ad un profondo braccio di mare, dove si trovano due imbarcazioni: una per l'Inferno, guidata da un Diavolo, l'altra per il Paradiso, guidata da un Angelo. Lungo la stessa riviera le anime penitenti espiano le loro colpe, per potere salire, una volta purificate, nella barca del Paradiso.


              AUTO DELLA BARCA DELL'INFERNO 

Personaggi: Barcaiolo Infernale - Diavolo; Barcaiolo Celeste - Angelo; Gentiluomo; Usuraio; Stolto; Ciabattino; Frate; Giovane donna (Fiorenza); Mezzana (Brigida Vaz); Giudeo; Giudice; Procuratore; Impiccato; quattro Cavalieri.

                                      La Trama

    Barcaiolo Infernale
Il Barcaiolo Infernale dalla poppa della barca invita i passeggeri ad entrare, imprecando e sollecitandoli, mentre dà l'ordine con male parole di issare la vela.

    Gentiluomo

Giunge un Gentiluomo che chiede incerto dove vada quella imbarcazione. Il Diavolo risponde che va all'Inferno. Il Gentiluomo, fingendo indifferenza, scherza sulla destinazione della barca e mette in dubbio che vi siano passeggeri. Ma quando il Barcaiolo lo invita ad avvicinarsi alla banchina, dichiarando che gli sembra proprio il tipo adatto al viaggio, il Gentiluomo si schermisce, invocando a sua difesa le preghiere continue in suffragio fatte per lui dai vivi.
Il Barcaiolo Infernale, con tono beffardo, mette in dubbio l'esistenza di orazioni e ne dichiara l'inefficacia nel caso venissero pronunciate, specialmente dopo una vita tutta dedita ai piaceri. Esorta quindi perentoriamente il Gentiluomo ad entrare nella barca, ricordandogli che già suo padre lo aveva fatto prima di lui e offrendogli la stessa sedia. Il Gentiluomo rimane interdetto e comincia a balbettare.
Ma il Diavolo lo incalza: il Gentiluomo riceverà, in quel luogo il trattamento che si addice alla vita vissuta prima di morire; nel momento del trapasso, ha fatto un cenno al diavolo, che oraé pronto. Nel tentativo di sottrarsi al suo destino il Gentiluomo si dirige allora verso un'altra barca, ormeggiata lì vicino e guidata da un Angelo che canta.


   
Barcaiolo Celeste
Il Gentiluomo si assicura che si tratta della barca del Paradiso e chiede con arroganza di salire, invocando i meriti del suo rango.
Recisamente l'Angelo risponde che non c'è posto in quella imbarcazione per chi si è comportato da tiranno e ha di sé una considerazione smisurata; e poiché in vita il Gentiluomo ha disprezzato i piccoli, ora sarà considerato tanto meno quanto più è stato orgoglioso.
Il Barcaiolo Infernale, con fare accattivante, lancia il suo richiamo e canta: "Mi verrete a tiro,a tiro mi verrete, e vedrete pesci nella rete". Il Gentiluomo sembra arrendersi all'idea di andare all'Inferno, per quanto, ironia della sorte, non avesse mai creduto alla sua esistenza. Si giustifica dicendo di aver sopravalutato la sua nobiltà, senza accorgersi di perdere la sua anima. Ma fa ancora un tentativo per convincere il Diavolo a lasciarlo andare: vorrebbe tornare tra i vivi per consolare la sua amata, che, in preda alla disperazione, minaccia di uccidersi per il dolore della sua morte.
L'argomento non persuade il Barcaiolo Infernale che, con sarcasmo, mette in dubbio le promesse degli amanti e perfino che ella abbia mai amato quell'innamorato credulone, quindi rivela al Gentiluomo che la sua dama ha trovato ben presto consolazione.
Al Gentiluomo non rimane altro che imbarcarsi. Quanto alla sedia di privilegio, il Barcaiolo Infernale la fa portar via, osservando che il Gentiluomo ne avrà presto un'altra costellata di punte dolorose e ben più scomoda.


    Usuraio
Giunge un Usuraio, che si informa sulla destinazione della barca. Il Diavolo lo accoglie come un suo pari e gli rimprovera il ritardo con cui arriva poiché era atteso da tempo.
L'Usuraio si giustifica, protestando che avrebbe indugiato ben oltre nel luogo dove era, impegnato ad accumulare denaro, se il Tempo non gli avesse fatto il malocchio.
Con ironia il Barcaiolo finge di meravigliarsi del fatto che il denaro non abbia potuto liberarlo da quella malefica influenza, mentre l'Usuraio si affretta a precisare che non gli è rimasto neanche tanto da poter pagare la traversata.
Infine, nonostante l'insistenza del Barcaiolo, rifiuta di entrare nella barca quando apprende che va all'Inferno.
Si avvicina, poi, alla barca guidata dall'Angelo, che gli chiede dove voglia andare. Ma quando sente che l'Usuraio ha intenzione di andare nel Paradiso, l'Angelo lo rispedisce senza tante cerimonie all'antico ingannatore (il Diavolo), dicendo che il bagaglio che l'Usuraio porta nel cuore è così grande che riempirebbe tutto lo spazio della barca Celeste. Il Diavolo da lontano commenta sarcastico, dicendo all'Angelo che non è il caso di imbarcare tale peso.
L'Usuraio si avvicina di nuovo alla banchina dove si trova la barca dell'Inferno e annuncia al Barcaiolo di voler tornare tra i vivi per prendere con sé il denaro, lamentando di essere stato umiliato dal Barcaiolo Celeste proprio a causa della sua apparente indigenza
Il Diavolo mette fine a tutti gli indugi, costringendolo a salire sulla barca Infernale, volente o nolente, per diventare servitore di colui che lo ha sempre aiutato nei suoi affari.
Per un attimo l'Usuraio si rende conto della sua cecità spirituale, poi, con stupore, scopre che nella stessa barca in cui si appresta a salire si trova un suo cliente: il Gentiluomo.

    Stolto
Arriva a questo punto uno Stolto, che si rivolge al Nocchiero Infernale scherzando con impertinenza e chiede a chi appartenga la barca dei dissennati. Il Barcaiolo sta al gioco e gli risponde che è la sua (dello Stolto).
Poi, lo incoraggia ad imbarcarsi, ma lo Stolto, con fare sospettoso, vuole accertarsi della destinazione prima di salire.
All'inizio non capisce bene le indicazioni del Barcaiolo, poi, non appena si rende conto che quella barca va veramente all'Inferno, prorompe in una sequela di facezie incontenibili miste ad insulti pittoreschi all'indirizzo del suo interlocutore infernale. Gli da del cornuto, del labbrone, lo chiama bistecca di pidocchio, scarpa, marito di una tignosa che partorirà un rospo su un tovagliolo, rubacipolle, scomunicato, asinastro, topolino delle ginestre. Lo insulta a più riprese minacciando di dargli una bastonata e rincara la dose definendolo ancora chiacchierone, zampa di cicala vecchia, coda di forno di tegole e altre amenità.
Infine, va verso la barca della Gloria, dove chiede di essere traghettato all'Angelo nocchiero, che gli domanda chi sia. Lo Stolto risponde di non essere nessuno. La risposta persuade l'Angelo ad accoglierlo nella barca del Paradiso, per la sua assoluta semplicità che lo tiene lontano da ogni malizia.

    Ciabattino
Giunge un Ciabattino carico di forme da scarpa, che, rivolgendosi al Barcaiolo Infernale, si presenta come un sant'uomo e un onesto lavoratore. Ma quando viene a sapere che la meta del viaggio è la terra dei dannati, chiede con convinzione dove sia l'imbarco per quelli che morirono dopo la confessione.
Il Barcaiolo taglia corto dicendo che questa è la barca che fa per lui. Il Ciabattino aggiunge che non solo si è confessato, ma anche comunicato. Ogni volta che il Diavolo lo smentisce, ricordandogli come ha vissuto, rubando nel lavoro e imbrogliando per trent'anni la povera gente, il Ciabattino esibisce la sua devozione e aggiunge altri meriti: le messe che ha ascoltato, le offerte in denaro e le preghiere in suffragio della sua anima. Il Barcaiolo Infernale ribatte che sentir messa e insieme rubare porta dritto all'Inferno; quanto al denaro delle offerte, non è mai stato restituito a coloro a cui fu rubato.
A corto di argomenti, il Ciabattino si reca allora alla barca del Paradiso chiedendo di essere traghettato. L'Angelo gli fa notare che il carico che porta gli è d'ostacolo. Il Ciabattino minimizza l'entità del suo bagaglio, osservando che potrebbe stare in un cantuccio qualunque della barca, poi si appella alla misericordia di Dio in tono lamentoso. Ma l'Angelo non si commuove e gli indica la barca Infernale, dove vanno le anime di quelli che sono abitualmente dei ladri. Aggiunge che solo chi ha vissuto rettamente è accolto nella barca del Paradiso e che il nome del Ciabattino è ormai scritto nel registro dei dannati.

    Frate, Giovane Donna (Fiorenza)
Entra un Frate che danza, canticchiando un motivetto e tenendo per mano una giovane donna.
Rispondendo al Barcaiolo Infernale che gli chiede che cosa faccia, il Frate saluta con il Deo Gratias e si proclama uomo di corte.
Con fare sornione il Barcaiolo gli domanda se conosca altri balli. Il Frate dichiara che non potrebbe essere altrimenti. Ma quando il Diavolo vuole sapere se quella giovane donna sia con lui e se debba entrare nella barca, il Frate nicchia.
Il Barcaiolo Infernale si fa più incalzante. Dopo aver fatto allusione alla disciplina che viene imposta nel sacro convento ai confratelli che sbagliano, lo invita ad imbarcarsi, per andare nel luogo in cui arde il fuoco eterno, del quale vivendo da libertino non ha avuto timore.
Il Frate chiama Dio a testimonio, mostra di non capire. Poi, in nome dell'abito che porta, protesta la sua virtù, imprecando e manifestando grande meraviglia all'idea di subire la condanna divina, non prevista nel suo contratto di religioso.
Con paziente ironia, il Barcaiolo Infernale sollecita all'imbarco il Frate, che, però, ha ancora un argomento con cui farsi perdonare i piaceri e l'amore per una donna: i salmi e le preghiere recitate. Ma il Barcaiolo, sottolineando la sua devozione nel coniugio piuttosto che come servo di Dio, ribadisce che non può sfuggire al suo destino.
Il Frate allora cerca di impressionarlo, ricordandogli l'alta carica ecclesiastica ricoperta e la sua abilità nella difesa con la spada. Poi, sottilmente adulato dal Diavolo, che lo incoraggia, il provetto spadaccino si esibisce in una lezione nell'arte di maneggiare la spada, tra levate, parate, guardie e fendenti. Quindi sentenzia che un frate con una tale esperienza di certo non può andare all'Inferno. Infine, mostrandosi disgustato per la scortesia ricevuta, afferrata la mano della giovane donna, si dirige con lei alla barca del Paradiso. Giuntivi, il Frate saluta con il Deo Gratias e dandosi delle arie chiede l'imbarco per sé e per Donna Fiorenza. L'Angelo tace, ma dal fondo della barca Celeste si ode la voce dello Stolto che caccia via in malo modo il frate insieme alla sua bella preda.
Li aspetta il Barcaiolo Infernale.

    Mezzana (Brigida Vaz)
Giunge alla barca dell'Inferno una Mezzana, di nome Brigida Vaz, che chiama a gran voce
Il Barcaiolo, meravigliandosi che ella giunga solo ora, la invita ad entrare nella barca e commenta sarcastico la sua tremebonda esitazione.
Alla domanda se abbia molto bagaglio, la Mezzana elenca i numerosi artifici indispensabili nel suo mestiere, che porta con sé: membrane posticce, efficaci filtri d'amore, menzogne, legami e in più gioielli rubati e armadi per nascondersi. Non manca, inoltre, un comodo carro con il fondo di sughero ricoperto di cuscini, per la seduzione. Il peso maggiore del bagaglio è però costituito dal gran numero di giovani donne messe in vendita per ricavarne lauti profitti.
Invitata dal Barcaiolo ad entrare nella barca che va all'Inferno, Brigida Vaz afferma che ha intenzione di andare in Paradiso. Si ritiene una martire, se non altro per tutto quello che ha dovuto sopportare: frustate, umiliazioni senza pari. D'altronde, aggiunge, se finisse nel fuoco infernale, quanti dovrebbero seguirla…
Prende quindi la decisione di recarsi alla barca per il Paradiso e chiede la passerella.
L'Angelo manifesta la sua perplessità.
La Mezzana usa tutte le sue arti per convincerlo a farla salire. Lo supplica ardentemente; presentandosi a lui con il nome di Brigida la Bella, gli ricorda il suo ufficio di mezzana che curava la bellezza delle ragazze e allevava fanciulle per i canonici del Vescovado.
Poi, blandendolo con moine. si professa donna di perfezione apostolica, pura come un angelo, santa, e aggiunge che molte donnine sono state da lei convertite e nessuna si è sviata. Il Cielo può confermare che tutte hanno trovato il loro signore. L'Angelo ascolta il profluvio di parole, che giudica inopportune e petulanti, e recisamente le dice che non può salire sulla sua barca.
La Mezzana delusa torna allora dal Barcaiolo Infernale, che osserva che se ella avesse condotto una vita santa ne sentirebbe ora gli effetti.

   Il Giudeo
Arriva un Giudeo con un caprone sulle spalle e chiede al Barcaiolo Infernale di imbarcare dietro compenso lui e il capro.
Il Barcaiolo lo accoglie di malagrazia e commenta sarcastico che non intende traghettare caproni. Il diniego lascia perplesso il Giudeo, giacché si domanda come possa entrare senza il capro (espiatorio).
Insiste, perciò, aumentando l'offerta di denaro, ma senza risultato: né lui né il caprone possono salire sulla barca. Allora si rivolge al Gentiluomo e chiamandolo con una punta di adulazione:"Signor Governatore", gli chiede il permesso di salire sulla barca, suscitando in tal modo le ire del vero padrone.
Ma il Giudeo, dando al Gentiluomo il titolo di Giudice, chiede con arroganza che quello sciocco sia punito e ingiuria il Barcaiolo con una sfilza di coloriti improperi.
Interloquisce a questo punto lo Stolto che, con candore, chiede al Giudeo se abbia rubato quella capra, chiamandolo nel contempo becco e completando il discorso con altri fantasiosi e improbabili epiteti. Poi, quando si rende conto che il Barcaiolo Infernale vuole sbarazzarsi del Giudeo indirizzandolo alla barca della Gloria, lo Stolto rincara la dose, enumerando tutte le malefatte che il Giudeo avrebbe, a suo dire, commesso. Il Barcaiolo Infernale mette fine alla contesa cacciando via il Giudeo insieme al suo capro.

   Giudice
Poi arriva presso la barca Infernale un Giudice; porta con sé una gran quantità di carte processuali.
Il Barcaiolo fa allusione alla sua passione per la cacciagione e velatamente alla corruzione con cui egli esercitava il suo ufficio, vendendosi per due pernici. Lo invita, quindi, ad imbarcarsi per l'Inferno.
Il Giudice protesta la irregolarità di quella richiesta, sentenziando in un latino storpiato che non è conforme al Diritto, essendo lui un giudice e non un reo. Il Barcaiolo lo contraddice e la conversazione prosegue con continue citazioni in latino maccheronico da una parte e dall'altra. Il Giudice allora rifiuta il viaggio e il barcaiolo, cercando una guardia portuale, che non c'é. Poi tenta di impressionare il Diavolo menzionando l'autorità che discende dal Diritto e rimarca che gli ordini del Barcaiolo non hanno alcuna efficacia sulle Leggi.
Il Barcaiolo, ironico, gli ricorda che ha rubato e che rubare è vento per le vele e che le carte dei processi, che il Giudice porta con sé, sarebbero una buona esca per il fuoco infernale, poiché ha giudicato con disonestà. Il Giudice proclama la sua perdurante imparzialità nella amministrazione della giustizia e addossa sulla propria moglie il peccato di aver accettato le pernici in regalo. Il Barcaiolo a questo punto enumera le sue colpe: non ha avuto timor di Dio e si è arricchito con il sudore della fronte dei poveri lavoratori ignoranti, le cui lamentele non ha voluto ascoltare. Il Giudice, con l'arroganza di chi ne sa una più del diavolo, enuncia il principio secondo il quale le donazioni smuovono le montagne e quindi il Diritto non si applica quando i giudici sono corrotti.
Il Barcaiolo lo esorta ad avviarsi agli oscuri Inferi, dove già si trovano scrivani e letterati sapientoni.

    Procuratore
Arriva un Procuratore che il Giudice saluta come una vecchia conoscenza. Con tono mellifluo il Barcaiolo Infernale lo invita ad entrare nella barca, chiamandolo:"Dottor Cancelliere". Il Procuratore gli chiede dove vadano gli altri passeggeri; apprende così che sono destinati alle pene infernali. Dichiara allora che salirà sull'altra barca, che ha un aspetto migliore. Il Giudice interloquisce e gli chiede se si sia confessato. Il Procuratore osserva che non aveva previsto che la sua malattia lo portasse alla morte. Il Giudice afferma che lui, invece, si è confessato, ma non ha rivelato al confessore tutto quello che ha rubato, per non doverlo restituire al fine di ottenere l'assoluzione.
Il Barcaiolo Infernale, che assiste impassibile alla conversazione, li sollecita all'imbarco, ma il Giudice risponde che non possono imbarcarsi mentre sono in attesa della misericordia di Dio.
Il Procuratore e il Giudice si recano allora dal Barcaiolo Celeste, implorandolo di traghettarli. L'Angelo gli ricorda come nascondevano dietro belle parole l'iniquità delle loro sentenze e constata come ora sanno perorare bene la loro causa, con sapienza.
Lo Stolto fa udire la sua voce, commentando in latino maccheronico che costoro che ora pregano con tanta insistenza hanno rapinato i cieli e derubato i maschi delle pernici, privandoli delle loro femmine; in più hanno offeso la religione. Poi a gran voce lo Stolto chiama gli sbirri, che li arrestino.
L'Angelo infine dichiara che la Giustizia Divina ha stabilito per il Giudice e il Procuratore l'imbarco nel battello infernale. I due uomini di legge si rassegnano ed entrano nella barca dei dannati, dove trovano Brigida Vaz, la Mezzana, che entrambi conoscono.
Ma costei non sembra felice di rivedere il Giudice, poiché è presa da turbamento, ricordando le persecuzioni giudiziarie che subì durante la sua vita di mezzana. Poi, con sarcasmo, fa il nome di un altro suo illustre cliente e probabile compagno di viaggio.



    Impiccato
Giunge un Impiccato. Il Diavolo lo invita a salire sulla barca infernale, chiedendogli che cosa mai gli abbia raccontato Garcia Moniz.
L'Impiccato dice che è davvero fortunato, poiché il Tesoriere della Zecca di Lisbona (Garcia Moniz) gli ha assicurato che colui che ruba, come lui ha fatto e poimuore impiccato, diventa santo. Con condiscendenza il Barcaiolo Infernale lo sollecita ad entrare nella barca per remare fino alle porte dell'Inferno.
Sembrandogli che il Diavolo non sia persuaso dalle sue buone ragioni, in aggiunta l'Impiccato riferisce che il Tesoriere, Garcia Moniz, gli parlò in grande confidenza condita di latino. Disse che Dio avrebbe gradito che l'impiccato fosse proprio lui e che proprio per questo era nato e per il suo bene era stato scelto dal Signore e consegnato agli sbirri. Garcia Moniz affermò, inoltre, che la forca e la prigione di Lisbona, detta "do Limoeiro", era il luogo destinato agli eletti. E quanti ce n'erano! Affettando compartecipazione, il Barcaiolo Infernale chiede all'Impiccato se la cosa gli facesse piacere oppure no.
Ma l'Impiccato si lamenta che con il cappio al collo i sermoni sono inutili. Insiste, però, affermando che gli venne promesso che nel momento della morte per impiccagione egli sarebbe andato senza indugio in Paradiso, laddove si mangia ogni giorno pane e miele. Aggiunge che nessuno gli ha mai parlato di spiaggia dei penitenti, né tantomeno di barcaioli o barcaiole che siano.
Alla fine, però, l'Impiccato comincia a pensare di essere stato ingannato. Il Diavolo gli chiede, mostrando qualche interesse, se il suo istigatore abbia mai parlato del Purgatorio. L'Impiccato ammette che gli aveva detto che la prigione di Lisbona era proprio il Purgatorio e che le torture che ha ricevuto erano preghiere per i defunti e messe gregoriane.
Il Barcaiolo Infernale lo invita ad imbarcarsi senza indugiare oltre, perché  non c'è altro da fare. Poi, accorgendosi che la barca è in secca, dà ordine a tutti i passeggeri di scendere.


    quattro Cavalieri
Giungono cantando quattro Nobili, Cavalieri dell'Ordine di Cristo ed esortano così le anime che si attardano a entrare nella barca per il Paradiso:"Alla barca, alla barca, mortali; / ma nel vivere una vita viziosa / si perde la barca della vita.".
Li attende il Barcaiolo Celeste, poiché sono liberi da ogni male e sono morti combattendo per la Fede.
  Mapa do Site /    Mappa del Sito
Index Portugal /   Portogallo
 
A Compilação Vicentina / La      Compilazione           Vicentina