Publicado no Rio em 1857 o romance O Guarani de José
de Alencar
é a expressão mais alta do indianismo romântico e depois ergue-se
a emblema da componente indianista da identidade nacional, da cultura
e estílo tipícamente brasileiros.
Foi composto no período de três meses e publicado
em folhetins, no quotidiano
"Diário do Rio de Janeiro", o qual José de Alencar
e alguns amigos haviam adquirido.
Da sua origem como folhetim, a obra mantém, além da
sua estrutura em quatro partes, a subdivisão em 58 capítulos, titulados,
breves, completos em si, para que tivessem uma certa autonomia
necessária à originária destinação editorial, mas intrigantes quanto
basta para estimularem a curiosidade do leitor e assim se justificasse
a publicação do seguimento do folhetim.
O autor faz amplo uso de técnicas narrativas típicas
do gênero: a menção de argomentos já tratados nos folhetins antecedentes
e em parte já notos ao leitor; a antecipação de eventos futuros;
a alusão reticênte a fatos melindrosos, quase sussurados ao ouvido
do leitor, mencionados como "disse me disse", da verificar;
a compromissão direta do leitor numa espécie de cumplicidade com
o autor, o qual si justifica com o seu público por haver já revelado
ou porque ainda não contou alguns fatos e acontecimentos, os quais
na sucessão cronológica acontecerão mais tarde em relação a outros;
a elipse, preenchida nos folhetins sucessivos; a retrospecção,
que reconstroi a memória de fatos passados omitidos pelo autor.
Mas, principalmente, o enrêdo movimentado, com cenários que mudam
rápidamente e freqüentes lances de surpresa, ou a chegada de uma
nova personagem ao fim de um capítulo.
A obra teve grande êxito que saiu naquele mesmo ano (1857) imprimida
em volume único, provisto de notas do autor.
As notas explicativas davam esclarecimentos ao leitor
português -principal destinatário da publicação- sobre os usos
ou aspectos da cultura dos indígenas, sobre as caracteristicas
antropológicas dos povos e das nações índias, sobre a flora e fauna
típicas do Brasil; além de fontes documentárias, que apoiavam seja
as informações seja os referimentos de carácter histórico sobre
a colonização do Brasil, que encontram-se na obra inteira.
No centro do Guarani está a ideologia do indianismo, com
a mitização do índio Perí, que representaria o
homem originário, primordial, do solo pátrio, verdadeira alma do
povo brasileiro, concebido numa visão romântica como um herói positivo,
indômito e corajoso, que entranha-se nas melhores virtudes cavalheirescas,
em contraste com a figura do colonizador europeu, muitas vezes ávido
e sem escrúpulos.
Se bem que foi escrita no século XIX, a história , que inicia em
1604, é ambientada no século XVII, ao tempo da fundação na terra
brasileira dos pôstos avançados da colonização portuguesa, aquelas
capitânias e feitorias que, a partir de 1530, atraíram fortunas e
emigrantes provindos de Portugal, juntos com as Bandeiras - os Bandeirantes
eramconquistadores e exploradores- que no século XVII lançaram-se
nas regiões do interior do Brasil buscando mineiras de ouro, de prata
e pedras preciosas, entrando assim em conflito com os índios, que
desde a origem viviam em simbiose natural com aquelas terras.
O romance contém muitos referimentos a fatos e personagens
históricos: a vitoriosa batalha contra os Franceses que haviam
ocupado a Baía da Guanabara, e a fundação da cidade do Rio de Janeiro,
que aconteceu em 1565, com a sucessiva consolidação daquela Capitânia,
por Mem de Sá e outros fidalgos portuguêses, entre os quais está também
Dom António de Mariz, na cuja casa e sesmaria se desenrola o enrêdo
do romance; a fundação no Rio de Janeiro do Convento do Carmo, à roda
de 1590, por parte dos frades carmelitas, que já se haviam estabelecido,
um ano antes em Santos; o Interregno Espanhol (1580-1640) durante
o qual Portugal perdeu a sua independência, a qual foi reconquistada
no 1640, graças ao duque de Bragança. Tal evento faz de fundo doloroso à
absoluta lealdade e fidelidade à Coroa Portuguesa da parte do velho fidalgo,
Dom António de Mariz.
Mas a perdida e restaurada independência de Portugal faz alusão,
talvez, nas intenções do autor, José de Alencar, à
mais recente (1822), proclamada independência do Brasil com o -Grito
do Ipiranga- e à legitima aspiração deste à sua própria identidade
nacional e à autonomia cultural.
Neste senso têm que interpretar-se no Guarani as
descrições maravilhosas da luxuriante natureza brasileira. Seja que se trate
do curso do rio Paquequer, afluente do Paraíba, ou de um penhasco,
das florestas tropicais ou das matas, das inumeráveis variedades
de flores, frutos e familias de animais, com a sonora e colorida
multidão de aves, o autor alterna o enrêdo do romance com vívidas
descrições do ambiente, que torna-se quase uma personagem por si
mesma.
E movimentos animados parece haver, na descrição feita por José de
Alencar,o rio Paquequer, que, nascido na Serra dos Orgãos, como um
fio de água, torna-se rio caudal,salta de cascata em cascata e serpenteia
no seu curso, até que, estirando seus braços na várzea para espreguiçar-se,
desagua como quedo afluente, nas
águas calmas e majestosas do rio Paraíba, do qual se deixa submeter
e refrear. Porém, não sem antes haver tentado de subtrair-se ao jugo,
como indômito filho da livre terra brasileira, nas proximidades da
foz. E assim, enquanto atravessa as florestas, o Paquequer rápido,
espumante como um tapir, ribomba; então, recolhendo as suas forças
para o último poderoso pulo de jaguar, precipita-se no despenhadeiro
a formar uma cascata. Depois, cansado, deita-se numa agradável bacia
natural e adormece.
No cenário oferecido da terra exuberante do Brasil colocam-se, em
diferentes planos, os acontecimentos das personagens: seja os que
ligam o índio Perí a Dom António de Mariz e à sua filha
encantadora, Cecília, loura , com a pele alva como o luar,
seja aqueles que envolvem duas nações índias, de língua e cultura Guarani,
a nação Goitacá e os Aimorés, que, por motvos
diversos, emergem da sua existência normalmente esquiva, regulada
e protegida pelos ritmos da floresta e pelos vínculos tribais, para
entrar em contacto com os récem-chegados, conquistadores e aventureiros,
dos quais os homens ao serviço de Dom António de Mariz são representantes
significativos.
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Pubblicato a Rio nel 1857 il romanzo Il Guaranì
di Josè de Alencar
è l'espressione più alta dell'indianismo romantico e dè
assurto poi ad emblema della componente indianista dell'identità nazionale,
della cultura e dello stile tipicamente brasiliani.
Fu composto nell'arco di tre mesi e pubblicato, a puntate, nel quotidiano "Diàrio
do Rio de Janeiro", che Josè de Alencar e alcuni amici avevano rilevato.
Della sua nascita come romanzo d'appendice l'opera conserva, al
di là della struttura quadripartita, la suddivisione in
58 capitoli, titolati, brevi, compiuti in sé, perché avessero una
certa autonomia richiesta dalla originaria destinazione editoriale,
ma intriganti quanto basta perché stimolassero la curiosità del pubblico e si
giustificasse così la pubblicazione della puntata seguente.
L'autore fa ampio uso di tecniche narrative tipiche del genere:
il richiamo di argomenti già trattati nelle puntate precedenti e in parte già
noti al lettore; l'anticipazione di eventi futuri; l'allusione reticente a
vicende scabrose, quasi sussurrate all'orecchio del lettore, riferite come
riservate dicerie, da verificare; il coinvolgimento diretto del lettore
in una sorta di complicità con l'autore stesso, che si giustifica
davanti al suo pubblico per aver già svelato o perché non ha ancora
raccontato alcuni fatti ed avvenimenti, che nella successione cronologica
avverranno più tardi rispetto ad altri; l'ellíssi, colmata nelle
puntate successive; la retrospezione, che ricostruisce la memoria
di avvenimenti passati omessi dall'autore. Ma soprattutto l'intreccio
movimentato, con scenari che cambiano con una certa rapidità e frequenti
colpi di scena, o la comparsa di un nuovo personaggio proprio sul
finire di un capitolo.
L'opera ebbe grande successo, tanto che uscì quello stesso anno (1857)
in volume unico, corredato da note dell'autore.
Le note esplicative fornivano chiarimenti al lettore portoghese
-principale destinatario della pubblicazione- su usanze o aspetti
della cultura dei nativi, sulle caratteristiche antropologiche dei
popoli e delle nazioni amerinde; sulla flora e sulla fauna tipiche
del Brasile; oltre a fonti documentarie, che suffragavano sia le
informazioni sia i riferimenti di carattere storico sulla colonizzazione
del Brasile, che si trovano in tutta l'opera.
Al centro del Guaranì
è l'ideologia dell'indianismo, con la mitizzazione dell'indio Perì, che
dovrebbe rappresentare l'uomo originario, primordiale, del suolo patrio, vera
anima del popolo brasiliano, concepito in una visione romantica come un eroe
positivo, fiero e coraggioso, che pratica le migliori virtù cavalleresche,
in contrasto con la figura del colonizzatore europeo, molto spesso
avido e privo di scrupoli.
Benché sia stato scritto nell'Ottocento, il racconto, che inizia
nel 1604, è ambientato nel sec. XVII, al tempo della fondazione in
terra brasiliana degli avamposti della colonizzazione portoghese,
quelle capitanie e fattorie che, a partire dal 1530, attrassero fortune e
migranti provenienti dal Portogallo, insieme con le- compagnie di ventura -
gli avventurieri erano conquistatori ed esploratori- che nel sec. XVII si
spinsero nelle regioni interne del Brasile alla ricerca di miniere d'oro,
d'argento e pietre preziose, entrando così in conflitto con gli indio,
che fin dalle origine vivevano in simbiosi naturale con quelle terre.
Il romanzo contiene molti riferimenti a fatti e personaggi storici:
la vittoriosa battaglia contro i Francesi che avevano occupato la
Baia di Guanabara e la fondazione della città di Rio de Janeiro,
avvenuta nel 1565, con il successivo consolidamento di quella Capitania, ad
opera di Mem de Sà e di altri nobili portoghesi, tra i quali
vi è anche Don Antònio de Mariz, nella cui casa e nel cui feudo si
svolge la vicenda narrata; la fondazione a Rio de Janeiro del Convento
del Carmine, intorno al 1590, ad opera dei frati carmelitani, che
già si erano stabiliti, un anno prima, a Santos; l'Interregno Spagnolo
(1580-1640), durante il quale il Portogallo perse la sua indipendenza,
che fu riconquistata nel 1640 per merito del duca di Braganza. Tale evento
fa da sfondo doloroso alla assoluta lealtà e fedeltà alla Corona
Portoghese da parte del vecchio fidalgo, Don Antònio de Mariz.
Ma la perduta e restaurata indipendenza del Portogallo allude, forse,
nelle intenzioni dell'autore, Josè de Alencar, alla più recente (1822),
proclamata indipendenza del Brasile -con il -Grido di Ipiranga- e
alla legittima aspirazione di quest'ultimo alla propria identità nazionale
e all'autonomia culturale.
In tal senso sono da interpretarsi nel Guaranì
le straordinarie descrizioni della lussureggiante natura brasiliana.
Che si tratti del corso del fiume Paquequer, affluente del Paraìba,
o di un costone roccioso, della foresta tropicale o di piante
agresti, delle innumerevoli varietà di fiori, frutti e famiglie
di animali, con la sonora e colorata moltitudine di uccelli, l'autore
alterna l'intreccio del romanzo a vivaci descrizioni dell'ambiente,
che diventa quasi un personaggio a sé stante.
E movenze animate sembra avere, nella descrizione fatta da Josè de
Alencar, il fiume Paquequer, che, nato nella Serra degli Organi come
filo d'acqua, diventa torrente, salta di cascata in cascata e serpeggia
lungo il suo corso, finché, protendendo i suoi bracci nella piana
per stiracchiarsi pigramente, entra, quieto affluente, nelle acque
calme e maestose del fiume Paraìba, da cui si lascia sottomettere
e tenere a freno. Non senza tuttavia aver tentato di sottrarsi al
giogo, come indomito figlio della libera terra brasiliana, in prossimità della
foce. E così, mentre attraversa le foreste, il Paquequer rapido,
spumeggiante come un tapiro, rimbomba; poi, raccogliendo le sue forze
per l'ultimo potente balzo da giaguaro, si lascia precipitare nel
vuoto, formando una cascata. Quindi, stanco, si sdraia in un accogliente
bacino naturale e si addormenta.
Nello scenario offerto dalla terra esuberante del Brasile si collocano, su
differenti piani, le vicende dei personaggi: sia quelle che legano l'indio Perì
a Don António de Mariz e alla sua incantevole figlia, Cecilia,
bionda e dalla pelle lunare, sia quelle che coinvolgono due nazioni
indigene, di lingua e cultura Guaranì, la nazione Goitacá
e gli Aimoré, che, per motivi diversi, emergono dalla
loro esistenza solitamente schiva, regolata e protetta dai ritmi
della foresta e dai legami tribali, per entrare in contatto con i
nuovi arrivati, conquistatori e avventurieri, di cui gli uomini al
servizio di Don António de Mariz sono significativi rappresentanti.
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