CIÊNCIA-FICÇÃO

PARTE 1ª

   FANTASCIENZA

PARTE 1ª



Rio de Janeiro, 1926. Em pleno clima modernista José Bento Monteiro Lobato, escreve um romance de ciência-ficção com um título intrigante: O Presidente Negro ou O Choque das Raças, ambientado nos Estados Unidos, em 2228.
O livro tem origem desde um folhetim do mesmo autor, intitulado: O Choque das Raças  (1926), que saiu na revista carioca A Manhã, de Mario Rodrigues, causando clamor na imprensa.

Ali se conta uma história curiosa, que aconteceu ao protagonista e narrador interno do romance, Ayrton Lobo, o modesto empregado duma companhia de comércio, que tornou-se confidente duma figura singular de cientista e extraordinário inventor, o professor Benson.

Um acidente automobilístico nas cercanias de Nova Friburgo, com uma Ford - a qual era o símbolo, pelo decênio de 1920, da própria ideia de velocidade e progresso - é o evento alcoviteiro que viria a unir os destinos de dois homens tão diversos.

Na casa-laboratório do douto, nas proximidades do lugar do acidente, Ayrton é socorrido e entregado ao cuidado da filha e colaboradora do professor Benson, Miss Jane, e dos empregados silênciosos, semelhantes aos autómatos, que naquele lugar prestam serviços.

Aqui recebe as primeiras confidências do professor sobre a sua maravilhosa invenção, o Cronizador, um aparelho que permite de canalizar o fluxo da evolução dos acontecimentos no tempo e produzir um tempo artificial, que pode ser acelerado (sem necessidade de esperar que o tempo passe) e detido num momento predeterminado.

A visualização dos eventos futuros, num instante de tempo predeterminado, acontece através do Futuroscopio, que analisa a chamada, pelo professor Benson, “secção anatómica do futuro”, em analogia com os métodos da Microscopia.

Na casa-laboratório de Nova Friburgo Ayrton recebe da Miss Jane – à qual Lobato atribui a função de segundo narrador interno – as revelações sobre as visões do futuro, por ela obtidas mediante o Futuroscopio, e o pedido de escrever, em forma de romance, os singulares acontecimentos do ano 2228.

A morte improvisa do professor Benson, que pressentindo o seu fim decide destruir a sua descoberta, queimando todos os projetos atinentes a ela e desmontando os elementos básicos dos aparelhos, num ímpeto de desconfiança pessimista para com o género humano, considerado incapaz de fazer bom uso dela, torna ainda mais preciosas as impressões do futuro conservadas na memória de Miss Jane.

A fio do sutil e delicado amor, porém oculto e inconfessado, de Ayrton Lobo pela jovem, que ficou sozinha e única depositária das extraordinárias experiências feitas com seu pai, o professor Benson, Monteiro Lobato introduz o conto da futurista sociedade norte- americana de 2228.

Superavançada, desde o ponto de vista do Capitalismo, graças ao desenvolvimento do pragmatismo fordista e ao industrialismo americano, nessa a luta de classes é superada pela conciliação entre as tres componentes sociais dos possuidores dos meios de produção e de troca, os produtores e os consumidores, representados pelos tres sócios que constituem a indústria americana do futuro.

Na sociedade do XXIII século, a luz “fria” que ilumina as cidades brota da tinta com que são pintadas as paredes das habitações, dentro e fora; a roda e as ruas se tornam inúteis, pois existe o radiotransporte e até o teletrabalho feito em casa é “irradiado” ao escritório; a leitura dos jornais se faz através dum écran colocado na parede de cada habitação; se vota a distância, com algoritmos, e se pode visualizar a progressão dos resultados instantâneamente na fachada de um edifício público. Os automatos domésticos proveêm às necessidades de cada dia, enquanto as mulheres podem seguir, da sua própria casa, as lições escolásticas “irradiadas” pela Universidade, que já não precisa mais de uma sede.

Existe até mesmo a cidade do amor, Eropolis, e as férias conjugais, que tornam obsoleto o próprio conceito de divórcio.

Todavia, uma sociedade assim constituida, que Lobato concebe desligada das regras sociais e morais tradicionais, certamente sob a sugestão das ideias futuristas e premodernistas da década de 20, não há ainda resolvido dentro de si as duas fundamentais questões sociais, a racial e a entre os sexos.

Na época em que escreve o romance, M. Lobato há muito presente a composição étnica dos Estados Unidos pelo decénio de 1920, onde o fenômeno da imigração europeia tocou o mássímo nível, acrescentou também a asiática, enquanto que os afroamericanos, quase todos descendentes dos antigos escravos, se bem que constituissem uma minorança mais estreita a respeito do século XVIII, sofrem formas de intolerável segregação racial.

A luta contra a descriminação passa, por ínicios do século XX, através das associações integracionistas, que se batem pela igualdade, de fato e de direito, entre a população branca e a de cor, e aqueles que propõem a criação de estados negros independentes.

Pelo decénio de 1920, no Brasil do desenvolvimento industrial, das lutas operárias, das imensas plantações de café, dos jecas-tatus, mas também dos galhardos filhos de imigrantes em automóvel, da insofrida vontade da liberdade do passado português e europeu, como também da grande instabilidade politica apenas mascarada pelas ideologias do nacionalismo autonomista, a lei que decreta a abolição da escravidão (1888) há pouco mais de trinta anos. Entretanto, o Brasil mistoracial resolveu pragmaticamente o problema da convivência entre brancos, negros e índios, através da mestiçagem, do sincretismo religioso e da progressiva integração cultural.

 

Rio de Janeiro, 1926. In pieno clima modernista José Bento Monteiro Lobato scrive un romanzo di fantascienza dal titolo intrigante: Il Presidente Nero o Lo Scontro tra Razze, ambientato negli Stati Uniti nel 2228.
Il libro prende l’avvio da un feuilleton dello stesso autore, che uscì, col titolo: Lo Scontro tra Razze (1926), sulla rivista carioca A Manhã, di Mario Rodrigues, suscitando clamore nell’ambiente giornalistico.

Vi si racconta una storia curiosa accaduta al protagonista e narratore interno del romanzo, Ayrton Lobo, il modesto impiegato di una ditta commerciale, assurto a confidente di una singolare figura di scienziato e straordinario inventore, il professore Benson.

Un incidente automobilistico nei pressi di Nova Friburgo, su una Ford – che incarnava, negli anni Venti, l’idea stessa di velocità e progresso – è l’evento galeotto che avrebbe unito i destini di due uomini tanto diversi.

Nella casa-laboratorio dello scienziato, poco lontano dal luogo dell’incidente, Ayrton viene soccorso e affidato alle cure della figlia e collaboratrice del professore Benson, Miss Jane, e degli inservienti silenziosi, simili ad automi, che in quel luogo svolgono le mansioni di servizio.

Qui riceve le prime confidenze del professore sulla sua fantastica invenzione, il Cronizzatore, un apparecchio che permette di imbrigliare il flusso dell’evoluzione degli avvenimenti nel tempo e di produrre il tempo artificiale, che può essere accelerato (senza la necessità di aspettare che il tempo passi) e trattenuto nell’istante scelto.

La visualizzazione degli eventi futuri, in un determinato istante di tempo, avviene attraverso il Futuroscopio, che analizza quella che il professore Benson chiama “la sezione anatomica del  futuro”, in analogia con i metodi della Microscopia.

Nella casa-laboratorio di Nova Friburgo Ayrton riceve da Miss Jane - alla quale Lobato attribuisce la funzione di secondo narratore interno – le rivelazioni sulle visioni del futuro, da lei ottenute tramite il Futuroscopio, e la richiesta di scrivere, sotto forma di romanzo, i singolari avvenimenti dell’anno 2228.

La morte improvvisa del professor Benson, che, presentendo la sua fine, decide di distruggere la sua scoperta bruciando tutti i progetti e smontando i pezzi basilari delle apparecchiature, in un impeto di pessimistica sfiducia nei confronti del genere umano, ritenuto incapace di farne buon uso, rende ancora più preziose le impressioni del futuro conservate nella memoria di Miss Jane.

Sul filo esile e delicato dell’inconfessato amore di Ayrton Lobo per la giovane donna, rimasta sola e unica depositaria delle straordinarie esperienze scientifiche condivise con suo padre, il professor Benson, Monteiro Lobato introduce il racconto della avveniristica società statunitense del 2228.

Capitalisticamente superavanzata, grazie agli sviluppi del pragmatismo fordista e dell’industrialismo americano, in essa la lotta di classe è superata dalla conciliazione fra le tre componenti sociali dei detentori dei mezzi di produzione e della distribuzione, dei produttori e dei consumatori, rappresentati dai tre soci che costituiscono l’industria americana del futuro.

Nella società del XXIII secolo, la luce “fredda” che illumina le città scaturisce dalla tinta con cui sono dipinte le pareti delle case, dentro e fuori; la ruota e le strade sono diventate inutili, poiché esiste il radiotrasporto e perfino il telelavoro, fatto a casa e “irradiato” in ufficio; la lettura dei giornali avviene attraverso uno schermo a parete situato in ogni abitazione; si vota a distanza, con degli algoritmi, e si visualizza la progressione dei risultati istantaneamente sulla facciata di un edificio pubblico. I robot domestici provvedono ai bisogni del quotidiano, mentre le donne possono seguire a casa propria le lezioni scolastiche “irradiate” da Università, che non necessitano più di una sede.

Esiste perfino la città dell’amore, Eropolis, e le ferie coniugali, che rendono obsoleto lo stesso concetto di divorzio.

Tuttavia, una società cosiffatta, che Lobato concepisce svincolata dalle regole sociali e morali tradizionali, certo sotto la suggestione delle istanze futuriste e premoderniste degli anni Venti, non ha ancora risolto al suo interno due fondamentali questioni sociali: quella razziale e quella sessista.  

Nell’epoca in cui scrive il romanzo, M. Lobato ha certamente presente la composizione etnica degli Stati Uniti degli anni Venti, in cui il fenomeno dell’immigrazione europea ha toccato il suo massimo livello, è crescente quella asiatica, mentre gli afroamericani, quasi tutti discendenti dagli antichi schiavi, benché costituenti una minoranza piú ristretta rispetto al XVIII secolo, subiscono forme di intollerabile segregazione razziale.

La battaglia contro la discriminazione passa, agli inizi del sec. XX attraverso le associazioni integrazioniste, che si battono per l’uguaglianza, di fatto e di diritto, tra la popolazione bianca e quella di colore e quelli che propongono la creazione di stati neri indipendenti.

Negli anni Venti, nel Brasile dello sviluppo industriale, delle rivendicazioni operaie, delle sconfinate piantagioni di caffè, dei jecas-tatus, ma anche dei gagliardi figli di immigranti in automobile, della insofferente voglia di libertà dal passato portoghese ed europeo, come pure della grande instabilità politica, appena mascherata dalle ideologie del nazionalismo autonomista, la legge che sancisce l’abolizione della schiavitù (1888) ha poco più di trent’anni. Tuttavia, il Brasile mistirazziale ha risolto pragmaticamente il problema della convivenza tra bianchi, neri e indios, attraverso il meticciato, il sincretismo religioso e la progressiva integrazione culturale.     

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