MACHADO DE ASSIS

     MACHADO DE ASSIS


Nascido no Rio, Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) vive no Brasil numa época de grandes e fortes transformações - a independência do Portugal (1822) e o nascimento do Reino do Brasil, a abolição da escravidão (Lei Áurea de 13.05.1888) e, apenas um ano depois, a proclamação da Republica (1889) - superando com desprendimento as restrições às quais eram submetidos os mestiços, e, em geral, os descendentes das classes sociais mais humildes, embora no tolerante e de facto mistiracial Brasil.

Às dificuldades ele responde com a constante aspiração à integração, pondo a si mesmo sempre novas metas culturais e acabando por tornar-se o mais representativo dos escritores da boa literatura brasileira oitocentista.


Mulato, os seus biógrafos o descrevem como filho de um pintor de paredes, descendente de escravos, e de uma açoriana da Ilha de São Miguel, a qual falece cedo.

Embora de condições humildes, os seus pais e a madrasta, que o cria com muito carinho e cuida da sua educação mesmo depois do falecimento do marido, sabiam ler e escrever. Ele, no entanto, não faz estudos regulares, mas é essencialmente um autodidata.

Não faltam na sua vida outras figuras femininas, sob cujas asas protetoras ele desenvolve as suas ambições literárias: D. Maria José de Mendonça Barroso, em cujas terras vivia e trabalhava a família de origem dele, e a culta portuguesa D.Carolina Augusta Xavier de Novais, que vai ser felizmente sua esposa e discreto e fiel suporte da sua atividade intelectual desde 1869 até 1904, quando a morte vai interromper a união matrimonial e o sodalício cultural.


Apesar das dificuldades económicas e preconceitos sociais que marcaram a sua infância e numerosos problemas de saúde, que vão atormentá-lo durante toda a vida, dedica-se, nos anos da sua formação, ao estudo da literatura francesa e europeia, elaborando um estilo muito pessoal.


O seu percurso no mundo do trabalho diz-se em breve: antes vem a experiência como aprendiz tipógrafo (1858) na Imprensa Nacional, a primeira tipografia de estado no Brasil, fundada em 1808 como Impressão Regia, por ordem do príncipe regente Dom João e futuro rei Dom João VI, que para o Rio de Janeiro havia transferido a corte portuguesa (1808) durante a invasão de Portugal pelas tropas napoleónicas, pondo de facto as premissas para a futura secessão do Ipiranga.

Em 1873 Machado de Assis obtém no Ministério da Agricultura um emprego estável, que por trinta e cinco anos vai consentir-lhe de viver sem muitos problemas financeiros. Entre um e outro, uma intensa atividade de jornalista e escritor, que o torna em breve famoso e estimado no ambiente.


Nas revistas, muito jovem, havia iniciado sua atividade de escritor, publicando na “Marmota Fluminense”, quando tinha apenas dezasseis anos, a poesia A Palmeira (1855), e, aos dezanove anos, a sua primeira obra de género narrativo, o conto Três tesouros perdidos (1858).

A colaboração com as revistas vai continuar durante toda a vida. Ele alterna, de facto, a composição das suas obras mais relevantes em verso e principalmente em prosa, que amiúde publica em folhetins nas revistas às quais colabora, à sua atividade de jornalista, autor de crônicas, e àquela de crítico teatral e literário.


No cume da sua fama, tenta programaticamente realizar uma literatura nacional, em oposição às temáticas localistas e regionalistas dos seus contemporâneos, orientados em individuar a julgada autêntica cultura brasilica no indianismo e na négritude, bem como na originária cultura portuguesa. Machado de Assis, ao contrário deles, mesmo sendo muito respeitoso do passado do Brasil, que se oculta na sua natureza exuberante e na variedade de nações e raças que o compõem, prefere contar o presente urbano a ele coevo, a época e os homens do “Segundo Reinado”.


Em 1865, havendo já publicado o seu primeiro livro de poesias, Crisálidas (1864), torna-se sócio fundador da Arcádia Fluminense. A seguir vai publicar outras tres coletâneas de poesias: Falenas (1870), Americanas (1875), Ocidentais (1900), que passam das posições românticas àquelas parnasianas.


Já muito famoso pela sua atividade de jornalista e narrador, é um dos trinta membros fundadores da Academia Brasileira (depois acrescentados a quarenta, segundo os moldes da Academia Francesa), escolhidos por aclamação pelos seus méritos literários, numa reunião que teve lugar na redação da “Revista Brasileira” a 15.11.1896.

Um mês depois, Machado de Assis é aclamado presidente da recém-nascida Academia Brasileira, que, no estatuto definitivo, se torna Academia Brasileira de Letras.


Naquela época ele já tem publicado os primeiros quatro romances: Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876), Iaiá Garcia (1878).

A estes se somam várias coletâneas de contos e dois romances, as Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e o Quincas Borba (1891), que com o Dom Casmurro, publicado em 1899, constituem a célebre trilogia sobre a morte.


Mais dois romances seguem-se, na última fase da vida e da produção narrativa, Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908), sem, contudo, alcançar o nível artístico da trilogia. Ou talvez manifestando uma fase de recuo do seu engenho criador, caracterizada por uma visão do mundo negativa e niilista.
Machado de Assis morre no Rio de Janeiro a 28 de setembro de 1908.


Da larga produção jornalística, critica e literária que nos deixou, tiradas as crônicas e outros “trechos” jornalísticos, a parte que sobressai sob o ponto de vista artístico-literário é aquela do genêro narrativo, que supera seja a poesia seja o teatro.
Em tudo cento e setenta e oito contos e nove romances.

Seja qual for o exito da invenção literária de cada um destes, trata-se principalmente de obras de fino caracter psicológico, escritas com aguda ironia e um estilo seco e às vezes nervoso, caracterizado por períodos gramaticais curtos, prevalentemente coordenados, com um tom quase coloquial, mas que ao mesmo tempo é rico de referimentos cultos e antecedentes literários.


As personagens de Machado de Assis formam, na qualidade e especificidade deles, um mosaico social que reflete a mais alta sociedade do tempo, aquele período cheio de acontecimentos históricos relevantes para a história do Brasil, que abrange a transferência da Corte portuguesa para o Rio (1808-1822), a Independência do Brasil (1822), o Primeiro Reinado (1822-1831) e o tormentoso Segundo Reinado (1831-1899).


Sob o impulso das grandes mudanças institucionais, legislativas e económicas, a sociedade brasileira se renova. À aristocracia rural, que constituía a classe dominante, sendo a economia do Brasil essencialmente agrícola, baseada na cultura canavieira e dos cafèzais, se juntam outras ordens e classes sociais.

Magistrados e funcionários da administração, comerciantes e letrados, oficiais militares, cortesãos e conselheiros, junto com suas famílias, esposas e filhas casadeiras, e mais, deleitosas viúvas abastadas e os inevitáveis clérigos, são para Machado de Assis fonte de inspiração das personagens dos seus romances.

No fundo da sociedade machadiana, fora do foco, o exército silencioso dos escravos: mão-de-obra gratuita nas plantações, servidores, homens e mulheres de faina, pajens e mucamas dos seus patrões e das suas patroas, brinquedos dos patrãozinhos, mercadoria que chega das colonias da qual se conversa.
Das lutas abolicionistas Machado de Assis ignora tudo.


Na relação com as personagens, que é sempre pessoal, sobressai a novidade de Machado de Assis. A sua especialidade é a introspeção psicológica. Machado observa o comportamento humano e quer indagá-lo; porém o faz com uma espécie de cumplicidade, como num diálogo continuo que envolve também o leitor.

O homem do qual Machado se ocupa é um homem medíocre, que tende ao imbele, com uma dosada mistura de qualidades e vícios, o qual toma as suas responsabilidades, mas com receio. A psicologia de certas suas personagens parece pertencer ao século XX, longe dos heróis, plasticamente modelados, que povoam os romances e contos oitocentistas.
Nisto, talvez, está a sua modernidade e a capacidade de falar ainda ao leitor de hoje.

 


Nato a Rio, Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) vive in Brasile in un’epoca di grandi e forti cambiamenti - l’indipendenza dal Portogallo (1822) e la nascita dell’Impero del Brasile, l’abolizione della schiavitù Legge Áurea del 13.05.1888) e, appena un anno dopo, la proclamazione della Repubblica (1889)- superando con distacco l’emarginazione sociale cui erano sottoposti i meticci e, in genere, i discendenti delle classi sociali più umili, sia pure nel tollerante e di fatto mistirazziale Brasile.

Alle difficoltà egli risponde con la costante aspirazione all’integrazione, ponendo a se stesso sempre nuovi traguardi culturali e finendo per diventare il più rappresentativo degli scrittori della buona letteratura brasiliana ottocentesca.


Mulatto, i suoi biografi lo dicono figlio di un umile imbianchino, discendente di schiavi, e di una donna azzorriana dell’Isola di São Miguel, che muore prematuramente.

Benché di umile condizione, i suoi genitori e la matrigna, che lo alleva amorevolmente e si occupa della sua educazione anche dopo la morte del marito, sapevano leggere e scrivere. Egli, tuttavia, non fa studi regolari, ma è essenzialmente un autodidatta.

Non mancano nella sua vita altre figure femminili, sotto la cui ala protettrice egli sviluppa le sue ambizioni letterarie: Maria José de Mendonça Barroso, sulle cui terre viveva e lavorava la sua famiglia d’origine, e la colta portoghese Carolina Augusta Xavier de Novais, che sarà felicemente sua moglie e discreta e fedele sostenitrice della sua attività intellettuale dal 1869 al 1904,quando la morte interromperà l’unione matrimoniale e il sodalizio culturale.


Nonostante le difficoltà economiche e i pregiudizi sociali che segnarono la sua infanzia e i numerosi problemi di salute, che lo tormenteranno per tutta la vita, si dedica, negli anni della sua formazione, allo studio della letteratura francese ed europea, elaborando uno stile personalissimo.


Il suo percorso nel mondo del lavoro è presto detto: prima viene l’esperienza come apprendista tipografo (1858) nella Imprensa Nacional, la prima tipografia di stato in Brasile, fondata nel 1808 come Impressão Regia, per volontà del principe reggente João del Portogallo e futuro re João VI, che a Rio de Janeiro aveva trasferito la corte portoghese (1808) durante l’invasione delle truppe napoleoniche in Portogallo, ponendo di fatto le premesse per la futura secessione di Ipiranga.

Nel 1873 Machado de Assis ottiene nel Ministero dell’Agricoltura un impiego stabile, che per trentacinque anni gli consentirà di vivere senza troppi problemi finanziari. Tra l’uno e l’altro, una intensa attività di giornalista e pubblicista, che lo rende ben presto famoso e apprezzato nell’ambiente.


Sulle riviste, giovanissimo, aveva cominciato la sua attività di scrittore, pubblicando sulla “Marmota Fluminense”, a soli sedici anni, la poesia La Palma (1855), e, a diciannove anni, la sua prima opera di narrativa, il racconto Tre tesori perduti (1858).

La collaborazione con le riviste continuerà per tutta la vita. Egli alterna, infatti, la composizione delle sue opere più rilevanti in versi e soprattutto in prosa, che spesso pubblica a puntate in appendice sulle riviste a cui collabora, all’attività di giornalista, autore di croniche, e a quella di critico teatrale e letterario.


All’apice della sua fama, tenta programmaticamente di realizzare una letteratura nazionale, in opposizione alle tematiche localistiche e regionalistiche dei suoi contemporanei, tesi ad individuare la ritenuta autentica cultura brasilica nell’indianismo e nella negritudine, non meno che nella originaria cultura portoghese. Machado de Assis, al contrario, pur essendo assai rispettoso del passato del Brasile, che si cela nella sua natura lussureggiante e nella varietà di nazioni e razze che lo compongono, preferisce raccontare il presente cittadino a lui coevo, l’età e gli uomini del “Secondo Impero”.


Nel 1865, avendo già pubblicato il suo primo libro di poesie, Crisalidi (1864), diviene socio fondatore dell’Arcadia Fluminense. Successivamente pubblicherà altre tre raccolte di poesie: Falene (1870), Americane (1875), Occidentali (1900), che spaziano da posizioni romantiche a quelle parnassiane.


Già molto famoso per la sua attività di giornalista e narratore, è uno dei trenta membri fondatori dell’Accademia Brasiliana (portati poi a quaranta, sul modello dell’Accademia Francese), scelti per acclamazione per i loro meriti letterari, in una riunione che si tenne nella redazione della “Revista Brasileira” il 15.11.1896.

Un mese dopo, Machado de Assis è acclamato presidente della neonata Accademia Brasiliana, che, nello statuto definitivo, diviene Accademia Brasiliana di Lettere.


A quell’epoca egli ha già pubblicato i primi quattro romanzi: Resurrezione (1872), La Mano e il Guanto (1874), Helena (1876), Iaiá Garcia (1878).

A questi si aggiungono diverse raccolte di racconti e due romanzi, le Memorie Postume di Brás Cubas (1881), e il Quincas Borba (1891) che, con il Don Casmurro, pubblicato nel 1899, costituiscono la celebre trilogia sulla morte.


Seguono ancora due romanzi, nell’ultima fase della vita e della produzione narrativa dello scrittore, Esaú e Jacó (1904) e Memoriale di Aires (1908), senza, tuttavia, raggiungere il livello artistico della trilogia. O forse esprimendo una fase di ripiegamento della sua creatività, caratterizzata da una visione del mondo negativa e nichilista.
Machado de Assis muore a Rio de Janeiro il 28 settembre 1908.


Della vasta produzione giornalistica, critica e letteraria che ci ha lasciato, tolte le croniche e altri “pezzi” giornalistici, la parte più rilevante dal punto di vista artistico-letterario è quella narrativa, che sopravanza sia la poesia che il teatro.
In tutto centosettantotto racconti e nove romanzi.

Quale che sia la fortuna dell’invenzione letteraria di ciascuno di essi, si tratta sopratutto di opere dal fine taglio psicologico, scritte con acuta ironia e con uno stile asciutto e a tratti nervoso, caratterizzato da un periodare corto, paratattico, quasi colloquiale, ma allo stesso tempo ricco di riferimenti colti e antecedenti letterari.


I personaggi machadiani formano, nella loro qualità e specificità, un mosaico sociale che riproduce l’alta società del tempo, quel periodo denso di avvenimenti storici rilevanti per la storia del Brasile, che comprende il trasferimento della Corte portoghese a Rio (1808-1822), l’Indipendenza del Brasile (1822), il Primo Impero (1822-1831) e il travagliato Secondo Impero (1831-1899).


Sotto la spinta dei grandi cambiamenti istituzionali, legislativi ed economici, la società brasiliana si rinnova. All’aristocrazia rurale, che costituiva la classe dominante essendo l’economia del Brasile essenzialmente agricola, basata sulla cultura della canna da zucchero e del caffè, si affiancano altri ceti e classi sociali.

Magistrati e funzionari pubblici, commercianti e intellettuali, ufficiali di rango militare, cortigiani e uomini politici, insieme con le loro famiglie, mogli e figlie da maritare, e ancora, piacenti vedove benestanti e gli immancabili ecclesiastici, sono per Machado de Assis fonte di ispirazione dei personaggi dei suoi romanzi.


Sullo sfondo della società machadiana, sfocato, l’esercito silenzioso degli schiavi: manodopera gratuita nelle piantagioni, servitori, uomini e donne di fatica, accompagnatori dei loro padroni e delle loro padrone, giocattoli dei padroncini, merce in arrivo dalle colonie di cui si conversa.
Delle lotte abolizioniste Machado de Assis ignora tutto.


Nel rapporto con i personaggi, che è sempre personale, emerge la novità di Machado de Assis. La sua specialità è l’introspezione psicologica. Machado osserva il comportamento umano e vuole indagarlo; ma lo fa con una sorta di complicità, come in un dialogo continuo che coinvolge anche il lettore.

L’uomo di cui Machado si occupa è un uomo mediocre, tendenzialmente imbelle, con una dosata mistura di qualità e vizi, che assume le sue responsabilità, ma con cautela. La psicologia di certi personaggi sembra appartenere al Novecento, lontano dagli eroi, sbalzati a tutto tondo, che popolano i romanzi e i racconti dell’Ottocento.
In questo, forse, sta la sua modernità e la capacità di parlare ancora al lettore di oggi.