Chamava-se “Iracema”,
que na língua Guarani está a significar “lábios
de mel”. Tinha
os olhos negros, longos cabelos negrissimos, um doce sorriso
e o hálito perfumado.
Pertencia à nação dos Tabajaras, que
habitavam no interior do Ceará.
O pai dela era Araquém, o Pajé da
tribo, para quem a virgem Iracema preparava a amarga bebida
dos sonhos, sagrada a Tupã, extraida da árvore
da jurema, da qual guardava o segredo com muito zelo. Só ela
podia tocá-la, no bosque sagrado da jurema, e servi-la
em especiais reuniões aos guerreiros tabajaras.
Com
o mesmo sentimento do sagrado Iracema praticava a hospitalidade,
conforme aos ensinamentos de seu pai e às tradições
do seu povo.
O encontro com Martim, guerreiro branco de nacionalidade portuguesa,
ocorreu na floresta, por causa de uma seta atirada para
deter o intruso, mas, incautamente, quebrada em sinal de
paz. Foi a educação à hospitalidade,
depois de ter acolhido o estrangeiro nas terras dos Tabajaras,
que a aconselhou para que o levasse à cabana de Araquém
e lhe desse o agasalho que se reserva ao hóspede,
trazido por Tupã.
Em nome
da hospitalidade o velho Araquém
e Caubi, irmão de Iracema, combateram com as armas
e com sabedoria e astúcia contra Irapuã, chefe
dos Tabajaras e ardente pretendente da formosa Iracema,
para defender aquele guerreiro branco, hóspede de Araquém,
que Irapuã julgava, com razão, um perigoso
rival em amor.
Era um sentimento suave, a principio apenas um turbamento, o
amor de Iracema por Martim e insinuou-se
no seu
ânimo de moça
colhendo-a desprevenida. Incerta entre o desejo de deter consigo
aquele que já amava e a necessidade de afastá-lo
logo das terras dos Tabajaras - hostis aos Portugueses, que eram
aliados da inimiga na ção
dos Pitiguaras, os índios do litoral, que fizeram aliança
com os Franceses na árdua luta entre os colonizadores da terra americana - Iracema
deixou-se enfim invadir daquele novo e inquietante sentimento.
Quando
Martim, na noite antes de deixar a cabana do Pajé, jazendo
insone pela pressão
do desejo e da mágoa da partida já próxima,
pediu à moça
para trazer-lhe o vinho de Tupã, que abre as portas aos
sonhos dos guerreiros, ela não
se negou a tal pedido fatal. E enquanto Martim pensava enganar
os seus sentidos com a bebida inebriante e aplacar só com
a imaginação o ardente desejo que tinha por
Iracema, ela estava realmente
entre os seus braços
e vivia a sua primeira experiência
de esposa.
Contudo, depois que os efeitos da bebida dos sonhos se esfumaram
e Martim retomou o contrôle da consciência, Iracema
calou-se, escondendo no seu
coração o que acontecera.
O desejo de proteger o amor recém-brotado
e a necessidade de salvar Martim
da justa cólera
do velho Araquém e de Caubi, que certamente acabariam
por vingar a hospitalidade traída e a ofensa feita a
Tupã,
roubando a sua virgem e o bom nome do Pajé,
a obrigaram a calar-se, até que, fugindo com Martim
e o amigo dele, Poti, atravessaram os confins das terras
dos Pitiguaras. Só então ela revelou ao perturbado
Martim que, enquanto ele sonhava, a filha do Pajé havia
traído o segredo da jurema.
O amor e a amizade são dois sentimentos
dos fortes contrastes: na cultura tupi, um compete à mulher,
por sua natura, outro é próprio dos guerreiros.
O amor, tomado com moderação, fortalece o guerreiro,
mas, em excesso, abate a coragem do herói.
Por amor Iracema preparou-se para pagar um preço altíssimo:
uma cruenta guerra tribal e a separação perpétua
da sua gente. Demais, não menos dolorosa,
uma imensa solidão.
Na longa fuga através das terras
dos Pitiguaras, depois de haver deixado
a hospitalidade amarga de Jacaúna,
inimigo vitorioso da tribo dos Tabajaras, Iracema se
sentia interiormente só. O que
lhe parecia afastar Martim dela não era só a
lembrança da
virgem loura
dos castos amores, que ele havia deixado nas terras longínquas
de além-mar, mas antes o sagrado sentimento de amizade
que liga os guerreiros e unia indissoluvelmente Martim
e Poti, valoroso guerreiro da nação pitiguara,
irmão de Jacaúna, o qual quis acompanhar
o amigo e a esposa dele naquela longa viagem.
Depois
de haver atravessado rios e matas, ao longo dos quais viviam
as tribos dos pescadores e dos caçadores do povo dos Pitiguaras, numa região
de altos morros de areia, não longe do mar, que à foz
do rio formava uma lagoa de águas límpidas,
Iracema construiu a sua cabana junto a seu esposo e achou
uma nova pátria para seu coração. Naquele
lugar disse ao feliz Martim que ela cêdo teria
sido a mãe do filho dele.
Este fato
marcou uma evolução
importante na relação entre Iracema e Poti,
filhos da terra americana, e Martim, o estrangeiro que veio
do mar para colonizar aquela terra. Rebatizado
Coatiabo, o pintado, através da cerimônia da pintura do corpo,
ele foi aceito definitivamente
como membro da nascente tribo, que alimentava com o seu sangue
e com aquele de Iracema e que tinha declarado não
mais querer abandonar. A serenidade
de Iracema junto a seu esposo, porém, durou pouco.
O mar
que o levou até aqueles lugares,
exercia sobre Martim uma atração fatal, feita
de saudades e amor pátrio, apenas mascarada pelo nobre
e cavaleiresco sentimento de defesa da terra
recém-conquistada. O
desassossego que atormentava Martim preocupava Iracema muito
mais que um inimigo em carne e osso, que, aliás, apareceu
no horizonte, um dia. A partida
repentina de Martim, para combater contra os Franceses
e os Tabajaras, aliados deles, foi um duro golpe para a
jovem futura mãe. Antes de tudo
pela maneira quase que furtiva, mas conforme às regras
e à simbologia indígena, com que Martim comunicou-lhe
que a partida aconteceu e ela tinha que esperar sem
seguir o rasto dele. Os costumes do seu povo não consentiam
a Iracema intrometer-se entre os dois homens, ligados por
um fortissimo interesse comum: a guerra.
Assim
começou o seu declínio.
Ao lago de Porangaba, onde estava costumada a tomar seu banho de
beleza, a mais formosa filha do sertão
agora preferia a lagoa, que os índios, encontrando-a
triste e sozinha, chamavam da Mesejana, isto é, da
abandonada. Uma jandaia foi a única companheira daquela
imensa solidão, apenas interrompida por um breve regresso
de Martim, que logo partiu para uma nova e renhida guerra
contra os Franceses, aliados desta vez com os índios
Tupinambás.
Um profundo
sentimento de abandono marcou também o longo período da gravidez de Iracema.
A sua maternidade aconteceu na dor, como para todas as mulheres,
mas ela sofreu ainda mais, por causa da ausência de
Martim e da falta da solidariedade, do apoio e das seguranças,
que podia oferecer-lhe a gente da sua tribo, da qual ela
ficou como desarraigada.
Chamou
seu filho Moacir, que significa “nascido
da dor”, e o alimentou com o seu sofrimento, pois a
mágoa e a saudade lhe haviam secado os seios e tinha
pouco leite. Além disso, a grande debilidade de Iracema
tornava dificil prover à nutrição e
ao recupero das suas forças.
Quando Martim chegou da guerra, após
oito meses, Iracema ia morrendo, mas ainda achava-se viva,
para cumprir aquele que julgava seu último dever:
apresentar o filho ao pai.
Até o fim o comportamento de Iracema é guiado
por rígidas regras sociais, temperadas pelo amor:
um forte, romântico, apaixonado amor, mas livre de
egoísmo e protagonismo. No encontro
entre duas civilizações,
que faz de cenário aos eventos, o futuro é representado
por uma criança, na qual se misturam o sangue índio
e aquele português.
Mesmo o nome de Iracema, anagrama de America, é o
prelúdio da nação brasileira que vai
nascendo, um amálgama de raças, culturas, línguas,
religiões diferentes, que juntas concorrem para formar
a riqueza da sua gente.
Com o romance Iracema José de
Alencar quis contar a lenda da fundação do
Ceará, partindo de uma realidade histórica:
a colonização do Nordeste brasileiro. Do
primeiro estabelecimento colonial que teve sucesso, devido
a Martim Soares Moreno, teve origem o Ceará.
Mas o doce nome daquela terra, que significa “canto
de jandaia”, está ligado à lenda da amada
Iracema, que Martim sepultou ao pé de um coqueiro,
onde uma jandaia continuou, por muito tempo, a chamar lamentosamente
o nome dela.
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Si chiamava “Iracema”,
che in lingua Guaranì vuol dire “labbra di miele”.
Aveva gli occhi neri, capelli nerissimi e lunghi, un dolce sorriso e l’alito profumato.
Apparteneva alla nazione dei Tabajara, che abitavano nella regione più interna del Ceará.
Suo padre era Araquém, il saggio sacerdote-guaritore [Pajé] della tribú, per
il quale la vergine Iracema preparava l’amara bevanda
dei sogni sacra a Tupã, ricavata dall’albero
di jurema, di cui custodiva gelosamente il segreto. Lei sola
poteva toccarla, nel bosco sacro di jurema, e servirla in
speciali occasioni ai guerrieri tabajara.
Con la stessa sacralità Iracema
praticava l’ospitalità, secondo gli insegnamenti
di suo padre e le tradizioni del suo popolo. L’incontro
con Martim, guerriero bianco di nazionalità portoghese,
avvenne nella foresta, a causa di una freccia scagliata per
fermare l’intruso e poi, incautamente, spezzata in
segno di pace. Fu l’educazione all’ospitalità,
dopo aver accolto lo straniero nelle terre dei Tabajara,
che la indusse a condurlo nella capanna di Araquém
e ad avere per lui le cure che si riservano all’ospite,
inviato da Tupã.
In nome dell’ospitalità il
vecchio Araquém e Caubi, fratello di Iracema, combatterono
con le armi e con sapiente astuzia contro Irapuã,
capo dei Tabajara e focoso pretendente della bella Iracema,
per difendere quel guerriero bianco, ospite di Araquém,
che Irapuã riteneva, e non a torto, un pericoloso
rivale in amore.
Era un sentimento delicato, all’inizio
appena un turbamento, l’amore di Iracema per
Martim e s’insinuò nel
suo animo di fanciulla cogliendola senza difese. Combattuta
tra il desiderio di trattenere presso di sé colui
che già amava e il bisogno di allontanarlo al più presto
dalle terre dei Tabajara - ostili ai Portoghesi, che erano
alleati della nemica nazione dei Pitiguara, gli indi della
costa, che avevano stretto alleanza con i Francesi nell’aspra
contesa tra i colonizzatori del suolo americano - Iracema
si lasciò infine pervadere da quel nuovo e inquietante
sentimento. Quando Martim, la notte prima di lasciare la capanna del Pajè,
mentre giaceva insonne, oppresso dal desiderio e dal
dispiacere della partenza ormai prossima, le chiese di
portargli il vino di Tupã,
che apre le porte ai sogni dei guerrieri, ella non si sottrasse
alla richiesta fatale. E mentre Martim pensava di ingannare
i suoi sensi con la bevanda inebriante e appagare solo con
l’immaginazione il bruciante desiderio che provava
per Iracema, ella era realmente tra le sue
braccia e viveva la sua prima esperienza di sposa. Tuttavia,
dopo che l’effetto della
bevanda dei sogni svanì e Martim riprese il controllo
della coscienza, Iracema tacque, nascondendo nel suo cuore
l’accaduto.
Il
desiderio di proteggere l’amore
appena sbocciato e la necessità di salvare Martim
dalla giusta ira del vecchio Araquém e di Caubi, che
certo avrebbero vendicato l’ospitalità tradita
e l’offesa fatta a Tupã, rubando la sua vergine
e il buon nome del Pajè, la spinsero a tacere,
finché, in fuga con Martim e l’amico di questi,
Poti, non varcarono il confine delle terre dei Pitiguara.
Solo allora ella rivelò allo smarrito Martin che,
mentre egli sognava, la figlia del Pajè aveva
tradito il segreto di jurema.
L’amore e l’amicizia sono
due sentimenti dai forti contrasti: nella cultura tupì,
l’uno compete alla donna, per sua natura, l’altro è proprio
dei guerrieri. L’amore, preso con moderazione, fortifica
il guerriero, ma, in eccesso, piega il coraggio dell’eroe.
Per amore Iracema si preparò a pagare
un prezzo altissimo: una sanguinosa guerra tribale e la separazione
perpetua dalla sua gente. Oltre a ciò, non meno dolorosa,
una immensa solitudine.
Nella lunga fuga attraverso le terre dei Pitiguara, dopo aver
lasciato l’ospitalità amara
di Jacaúna, nemico vittorioso della tribú dei
Tabajara, Iracema si sentiva interiormente sola. Ciò che le sembrava allontanare
da lei Martim non era solo il ricordo della vergine bionda
dai casti amori, che aveva lasciato nelle lontane terre d’oltremare,
ma piuttosto il sacro sentimento di amicizia che lega i guerrieri
que univa indissolubilmente Martim e Potì, valoroso
guerriero della nazione pitiguara, fratello di Jacaúna,
che aveva voluto accompagnare l’amico e la sua sposa
in quel lungo viaggio.
Superati fiumi e boschi, lungo i quali vivevano le tribù dei pescatori e dei cacciatori
del popolo dei Pitiguara, in una regione di alte dune di sabbia,
non lontano dal mare, che alla foce di un fiume formava
una laguna di acqua limpida, Iracema costruì la sua
capanna insieme al suo sposo e trovò una nuova patria
per il suo cuore. In quel luogo annunciò al felice
Martim che presto sarebbe divenuta madre di suo figlio.
Questo fatto segnò una evoluzione
importante nei rapporti tra Iracema e Poti, figli della terra
americana, e Martim, lo straniero che era venuto dal mare
per colonizzare quella terra.
Ribattezzato Coatiabo, il dipinto, attraverso la cerimonia della pittura
del corpo egli fu accettato definitivamente come membro
della nascente tribù, che alimentava con
il suo sangue e con quello di Iracema e che aveva dichiarato
di non voler più abbandonare.
La serenità di Iracema accanto al suo sposo, tuttavia, fu di breve durata.
Il
mare, che l’aveva condotto in
quei luoghi, esercitava su Martim un’attrazione fatale,
fatta di nostalgia e amor patrio, appena mascherata
dal nobile e cavalleresco sentimento di difesa del suolo
recentemente conquistato. L’inquietudine che attanagliava
Martim preoccupava Iracema assai più di un nemico
in carne e ossa, che non mancò di profilarsi all’orizzonte,
un giorno. La partenza improvvisa di Martim, per combattere contro i Francesi
e i Tabajara loro alleati, fu un duro colpo per la giovane
futura madre. Innanzitutto per il modo quasi furtivo, ma
conforme alle regole e alla simbologia indigena, con cui
Martim le comunicò l’avvenuta
partenza e che doveva attendere senza seguire le sue tracce.
Le usanze del suo popolo non consentivano a Iracema di interporsi
tra i due uomini, legati da un fortissimo interesse comune:
la guerra.
Era cominciato il suo declino.
Al lago di Porangaba, dove era solita prendere il suo bagno di
bellezza, la più bella ragazza
delle terre aride ormai preferiva la laguna, che gli indigeni,
incontrandola triste e sola, chiamavano di Mesejana, cioè,
dell’abbandonata. Una jandaia fu l’unica compagna
di quella immensa solitudine, appena interrotta da un breve
ritorno di Martim, seguito ben presto dalla partenza per
una nuova e impegnativa guerra contro i Francesi, alleati
questa volta con gli indi Tupinambá.
Un incolmabile sentimento di abbandono segnò anche il lungo periodo della gravidanza di Iracema.
La sua maternità avvenne nel dolore, come per tutte
le donne, ma ella soffrì ancora di più la
lontananza di Martim e la mancanza della solidarietà,
del sostegno e delle sicurezze, che poteva offrirle la gente
della sua tribù, da cui era come eradicata.
Chiamò suo figlio Moacir, che vuol
dire “nato dal dolore” e lo nutrí con
la sua sofferenza, poiché il pianto e la malinconia
le avevano inaridito i seni e aveva poco latte. La grande
debolezza di Iracema, inoltre, le rendeva difficoltoso provvedere
al nutrimento e al restauro delle sue forze. Al ritorno
di Martim dalla guerra, dopo otto mesi, Iracema era morente,
ma ancora viva per compiere quello che riteneva l’ultimo
suo dovere: presentare il figlio al padre.
Fino alla fine il comportamento di Iracema è guidato
da rigide regole sociali, temperate dall’amore; un
forte, romantico, appassionato amore, ma scevro di egoismo
e protagonismo. Nell’incontro tra due civiltà,
che fa da sfondo alla vicenda, il futuro è rappresentato
da un bambino, in cui si mescola il sangue indigeno e quello
portoghese.
Il nome stesso di Iracema, anagramma
di America, è il preludio
della nascente nazione brasiliana, un amalgama di etnie,
culture, lingue, religioni differenti, che concorrono insieme
a formare la ricchezza della sua gente.
Con il romanzo Iracema José de
Alencar ha voluto raccontare la leggenda della fondazione
del Ceará, partendo da una realtà storica:
la colonizzazione del Nord-est brasiliano. Dal primo
insediamento coloniale che ebbe successo, dovuto a Martim
Soares Moreno, ebbe origine il Ceará.
Ma il dolce nome di quella terra, che significa “canto
di jandaia”, è legato
alla leggenda della amata Iracema, che Martim seppellì ai
piedi di un albero di cocco, su cui una jandaia continuò
a lungo a chiamare lamentosamente il suo nome. |