O leitor que se dispõe a ler Iracema de José de Alencar,
desde as primeiras páginas fica surpreendido pela extraordinária
variedade de toponímicos que o acompanham, página após página,
cuja etimologia Tupi está explicada nas notas do autor, que ali estão
em grande abundância, se bem que inusitadas num romance.
O próprio autor não faz mistério, na Carta ao dr.
Jaguaribe (1865) a qual conclui a obra, da sua firme intenção
de pôr-se, no debate sobre a literatura nacional que caracterizou a segunda
metade do século XIX, entre os que afirmam a necessidade de criar uma
poesia genuína e inteiramente brasileira, haurida na língua dos
indígenas.
A língua, de fato, transmite o modo de sentir de um povo através
de certos modos de dizer, conceitos, imagens evocadas, mitos e lendas, que transmitem
a cultura, os costumes e as tradições populares.
A história
de Iracema tem como cenário o amado Ceará, o estado
do Nordeste brasileiro, o nome do qual, como nos conta de Alencar inspirado
por uma sugestiva lenda indigena, significa “canto da jandaia”.
Percorrendo o território do Ceará desde um confim até o
outro, ao longo da serra da Ibiapaba até o Oceano Atlântico e daí descendo
ao longo do litoral, desde a baía da Jericoacoara – enseada chamada “dos
papagaios”
– até a foz do rio Jaguaribe; em seguida, penetrando para dentro
das terras e seguindo o curso do rio dos jaguares, paralelamente à chapada
do Apodi; enfim, subindo de serra em serra e de rio em rio, até o triangulo
formado pelas atuais cidades de Quixeramobim, Santa Quitéria e Maranguape,
José de Alencar desenha um maravilhoso itinerário etimológico.
Por inícios
do século XVII, habitavam as terras que hoje configuram o estado do
Ceará, duas grandes nações indígenas de raça
Tupi: a nação dos Tabajaras e a dos Pitiguaras, constantemente
em luta pelo contrôle do território.
Os Tabajaras, cujo nome quer dizer “senhores das aldeias”, habitavam
nas regiões do interior e ao longo da serra da Ibiapaba, enquanto os Pitiguaras,
cujo nome significa “senhores dos vales”, dominavam o litoral atlântico
desde o rio Parnaíba até o atual estado do Rio Grande do Norte.
Contudo, até o século XVI, quando os Portuguêses chegaram
ao Brasil e começaram a exploração e colonização
dos seus vastos territórios, instituindo as Capitanias, as nações
de língua e cultura Tupi ocupavam indistintamente todo o território
do atual Ceará.
Nos conta José de
Alencar que, naquela época, o grande tacape da nação pitiguara
estava nas mãos do maior chefe Batuireté, cujo nome em Tupi significa “narceja
ilustre” e na linguagem figurada vale tanto como “valente nadador”.
Combatendo vitoriosamente contra as tribos dos Tabajaras, Batuireté
percorreu o litoral até o rio Jaguaribe, rechaçando os Tabajaras
para o interior e marcando a cada tribo seus novos lugares.
Então, atravessou o sertão até uma serra da qual tomou posse.
A fama da habilidade
na guerra do grande guerreiro pitiguara difundiu-se para todas as partes.br>Mas
quando, envelhecendo, seu corpo perdeu o vigor da mocidade e seu braço
ficou lasso e a vista se embaciou, com grande sabedoria o velho Batuireté entendeu
que era tempo de retirar-se da chefia e passou o tacape da grande nação
pitiguara a seu filho Jatobá, que tem o nome do jataí de grande
copa. Começou então a caminhar, apoiando-se num bordão
como fazem os velhos e os peregrinos. Assim atravessou o sertão e campos
viçosos, queixando-se no caminho, com tristeza, dos seus tempos passados,
porque já não conseguia ver os frutos saborosos nos ramos das
árvores e os pássaros que voavam no ar.
A gente que encontrava,
ouvindo o seu grito de saudade chorava a sua sorte e chamou aquele lugar Quixeramobim,
que quer dizer ”ah, meus outros tempos”.
Andando além do povoado de Acarape, palavra que significa “caminho
das garças”, nas proximidades da serra fertilissima que ainda hoje
vem chamada Serra de Baturité, o velho estratego caminhou mais.
Alcançou então a Serra de Maranguape, onde, no ponto mais alto,
levantou a sua cabana “o sabedor da guerra”, Maranguab, em língua
Tupi, do qual tomou o nome uma parte daquela serra.
Nenhum dos chefes dos Pitiguaras deixava de fazer visita ao grande Maranguab
para pedir conselhos, quando ressoavam as inubias de guerra.
Assim conta José de Alencar, que porém vai mais além, até que
atribui ao sábio Batuireté capacidades proféticas.
O autor de Iracema narra,
de fato, que de Batuireté nasceu Jatobá
e de Jatobá e sua esposa Saí vieram à luz Jacaúna
e Poti, netos de Batuireté e chefes valorosos dos guerreiros pitiguaras.
Jacaúna e Poti se ligaram de amizade com um jovem guerreiro branco de
nacionalidade portuguesa, Martim, com quem dividiram o fogo da hospitalidade
e do qual foram companheiros em muitas expedições de guerra.
Quando Poti andou a visitar o grande Maranguab, seu avô, o amigo Martim
quis acompanhá-lo.
Batuireté
estava sentado junto da sua cabana perto da cascata e Poti falou com ele, apresentando-lhe
Martim como seu irmão branco, que veio para conhecer o maior guerreiro
de todas as nações.
Levantando do neto ao estrangeiro os olhos baços, o abaetê observou
que, antes de morrer, Tupã lhe havia concedido que visse o gavião
branco junto da narceja.
Ele chama o estrangeiro “gavião branco", com o nome de uma
ave de rapina e define o neto “narceja”, isto é presa do rapace.
Em verdade, já cego e próximo ao fim da sua vida, como os profetas
sabe ver mais além e vê o que os outros não vêem.
A profecia faz alusão à destruição da raça índia
pela raça branca, recém-chegada.
A História
recorda M. Soares Moreno como o verdadeiro fundador do Ceará e por ter
tomado parte na primeira expedição portuguesa encarregada de
colonizar a capitania do Ceará, por inícios do século
XVII.
A amizade entre o chefe índio Poti, irmão de Jacaúna, da
grande nação dos Pitiguaras e o cabo português Martim, consolidou-se
na guerra contra os inimigos comuns, os Holandeses e os Franceses, que em vão
tentaram de contender com os Portuguêses pelo território do Ceará.
|
|
Il lettore che si accinge a leggere Iracema di José de Alencar,
fin dalle prime pagine rimane stupito dalla straordinaria varietà di toponimici
che lo accompagnano, pagina dopo pagina, la cui etimologia Tupi viene spiegata
nelle note dell’autore, che vi si trovano in grande abbondanza, benché siano
insolite in un romanzo.
Lo stesso autore non fa mistero, nella Lettera al dr. Jaguaribe (1865)
che conclude l’opera, della sua intenzione di porsi, nel dibattito sulla
letteratura nazionale che caratterizzò
la seconda metà dell’Ottocento, tra coloro che sostengono la necessità
di creare una poesia autentica e interamente brasiliana, attinta dalla lingua
degli indigeni.
La lingua è, infatti, portatrice del modo di sentire di un popolo attraverso
certi modi di dire, concetti, immagini evocate, miti e leggende, che tramandano
la cultura, i costumi e le tradizioni popolari.
La storia di
Iracema ha come scenario l’amato Ceará, lo stato del Nord-est
el Brasile, il cui nome, ci racconta de Alencar riprendendo una suggestiva
leggenda indigena, significa “canto della jandaia”.
Percorrendo il territorio del Ceará da un confine all’altro, lungo
la serra di Ibiapaba fino all’Oceano Atlantico; indi proseguendo lungo
la costa, dal golfo di Jericoacoara – golfo detto “dei papagalli” –
fino alla foce del fiume Jaguaribe; addentrandosi poi nell’entroterra,
seguendo il corso del fiume dei giaguari, parallelamente all’altopiano
di Apodi; risalendo, infine, di serra in serra e di fiume in fiume, fino al triangolo
che ai vertici porta le attuali città di Quixeramobim, Santa Quitéria
e Maranguape, José de Alencar traccia uno straordinario itinerario etimologico.
Agli inizi del
sec. XVII, abitavano le terre che oggi costituiscono lo stato del Ceará,
due grandi nazioni indigene di razza Tupi: la nazione dei Tabajara e quella
dei Pitiguara, perennemente in lotta per il controllo del territorio.
I Tabajara, il cui nome vuol dire “signori dei villaggi”, abitavano
le zone dell’interno e lungo la serra di Ibiapaba, mentre i Pitiguara,
il cui nome significa “signori delle valli”, dominavano il litorale
atlantico dal fiume Parnaíba fino all’attuale stato del Rio Grande
do Norte.
Tuttavia, fino al XVI secolo, quando i Portoghesi giunsero in Brasile e cominciarono
l’esplorazione e la colonizzazione dei suoi vasti territori, istituendo
i Capitanati, le nazioni di lingua e cultura Tupi occupavano tutto il territorio
dell’attuale Ceará indistintamente.
Narra José de
Alencar che, in quell’epoca, il bastone del comando supremo della nazione
pitiguara era nelle mani del sommo capo guerriero Batuireté, il cui
nome in Tupi vuol dire “beccaccino illustre” e per traslato
“valente nuotatore”.
Combattendo vittoriosamente contro le tribù dei Tabajara, Batuireté
si spinse lungo la fascia costiera fino al fiume Jaguaribe, respingendo nell’entroterra
i Tabajara e assegnando nuovi confini territoriali a ciascuna tribù.
Attraversò poi le terre aride e disabitate fino a una serra di cui prese
possesso.
La fama dell’abilità nell’arte
della guerra del grande guerriero pitiguara corse ovunque.
Ma quando, invecchiando, il suo corpo perse il vigore della gioventù
e il suo braccio non fu più saldo e la vista si offuscò, con grande
saggezza il vecchio Batuireté capì che era tempo di ritirarsi dalla
sua carica e lasciò il bastone del comando della grande nazione pitiguara
a suo figlio Jatobá, che porta il nome del jataí frondoso.
Cominciò allora a camminare, poggiandosi a un bastone come fanno i vecchi
e i pellegrini. In tal modo attraversò terre desertiche e fertili campi,
lamentandosi lungo il cammino dei bei tempi passati, con tristezza, perché ormai
non riusciva più a vedere i dolci frutti sui rami degli alberi e i passeri
che volavano nell’aria.
La gente che
incontrava, sentendo il suo grido di nostalgia compiangeva la sua sorte e chiamò quel
luogo Quixeramobim, che vuol dire “ah, i miei tempi andati”.
Oltrepassato il villaggio di Acarape, parola che vuol dire “dove camminano
gli aironi”, nei pressi della fertilissima serra che ancora oggi è
detta Serra di Baturitè, il vecchio stratega camminò nuovamente.
Raggiunse quindi la Serra di Maranguape, dove, sulla vetta più alta, fece
la sua capanna “colui che è sapiente nell’arte della guerra”,
Maranguab, in lingua Tupi, da cui prese il nome una parte di quella serra.
Nessuno dei capi dei Pitiguara mancava di fare visita al grande Maranguab per
chiedergli consiglio, quando rintronavano le trombe di guerra.
Così racconta José de Alencar, che però si spinge ben oltre,
fino ad attribuire al saggio Batuireté capacità profetiche.
L’autore
di Iracema narra, infatti, che da Batuireté nacque Jatobá
e da Jatobá e sua moglie Saí videro la luce Jacaúna e Poti,
nipoti di Batuireté e valorosi guerrieri pitiguara.
Jacaúna e Poti si legarono di amicizia con un giovane guerriero bianco
di nazionalità portoghese, Martim, con cui condivisero il fuoco dell’ospitalità
e del quale furono compagni in numerose spedizioni di guerra.
Quando Poti andò a far visita al grande Maranguab, suo nonno, l’amico
Martim volle accompagnarlo.
Batuireté
stava seduto nei pressi della sua capanna vicino alla cascata e Poti si rivolse
a lui, presentandogli Martim come il fratello bianco venuto a vedere il più grande
guerriero di tutte le nazioni.
Levando sul nipote e sullo straniero lo sguardo spento, il vecchio saggio osservò che,
prima di morire, Tupã gli aveva concesso di vedere lo sparviere bianco
insieme al beccaccino.
Egli chiama lo straniero “sparviere bianco”, con il nome di un uccello
predatore e definisce il nipote “beccaccino”, cioè preda del
rapace. In realtà, ormai cieco e prossimo alla fine della sua vita, come
i profeti sa vedere oltre e vede quello che gli altri non vedono.
La profezia allude alla distruzione della razza india da parte della razza bianca
recentemente arrivata.
La Storia ricorda
M. Soares Moreno come il vero fondatore del Ceará
e per aver fatto parte della prima spedizione portoghese incaricata di colonizzare
il capitanato del Ceará, agli inizi del sec. XVII.
L’amicizia tra il capo indio Poti, fratello di Jacaúna, della grande
nazione dei Pitiguara e il condottiero portoghese Martim, si rinsaldò
nella guerra contro i nemici comuni, gli Olandesi e i Francesi, che tentarono
invano di contendere ai Portoghesi il territorio del Ceará.
|