O GUARDADOR DE REBANHOS - OS TEMAS

 

  IL GUARDIANO DI GREGGI - I TEMI



Nega peremptoriamente de ser um pastor, Alberto Caeiro, embora se professe como tal: pastor d'animo, guardador de pensamentos.

E como os pastores habitualmente percorrem estradas e veredas, planicies e colinas da Mãe-Terra ao cambiar das estações, seguindo o rebanho, assim o Poeta se imerge numa profunda meditação sobre a Natureza, quase que em solilóquio, observando os seus pensamentos com o mesmo sossegado destaco com o qual o pastor olha ao rebanho. A paisagem natural sem gentes e silenciosa é cheia de paz e acorda-se plenamente com o estado d'animo do Poeta, cuja solidão interior é natural e é a fonte da sua Poesia.

Escrever versos não é a minha ambição, declara, mas é uma maneira de existir e de estar sozinho.
Assim começa o poema "O Guardador de Rebanhos", aonde já nas primeiras poesias aparecem os temas que serão presentes na obra inteira: a relação com a Natureza, a relação do Homem e do Poeta consigo mesmo, no ambito de uma singular concepção do Mundo.
À Natureza, às maravilhosas entidades que a compõem e que se revelam ao observador do olhar afascinado, como aquele de uma criança que vê o Mundo pela primeira vêz, A. Caeiro apresenta um canto de amor, sustendo que por ela se possa haver somente "sentimento" vazio de pensamentos. A Natureza é para nós não tanto porque a conhecemos, mas porque a advertimos com os sensos e a amamos sem nada pedir. Existe para nós em quanto vem percebida como  flores  árvores  hervas  animais e outros elementos naturais, simplesmente, sem esforços nem pensamentos.
Por outro lado, pensar torna o Poeta infeliz.
Além disso pensar a Natureza é inútil e desviante: pobre iluso aquele que crê de colher o seu sentido profundo, a sua essência intrinseca.

Não tem nada para entender porque não existem mistérios nela; as coisas são somente aquilo que parecem ser, não têem significado, mas apenas existência.
Nem a Natureza é consciente de si mesma, mas no entanto as árvores vivem, espontâneamente, e dão frutos segundo as estações. E o Homem mal se dá conta disso. Mas se, vendo e ouvindo, parasse a pensar naquilo que dá origem às suas sensações e ao Fim último das coisas, não poderia satisfazer-se imediatamente do espetáculo que a Natureza espontâneamente lhe oferece a cada dia.

Dos versos de A. Caeiro emerge, desde o ponto de vista dos conteúdos do conhecimento, que nós podemos conhecer a Natureza somente como Exterioridade, por que a Natureza há só este fator, não possui um "dentro". Deste ponto de vista, o pensamento racional é non-conhecimento da realidade; quem diz que conhece. não faz nada mais que transferir ao "conhecido" as próprias emoções, as próprias opiniões, os próprios pensamentos e a sua atitude mental. Pois, quem assim faz não sabe nada e nem sequer conhece a realidade.
E não existe ambição intelectual maior daquela de quem tenta de conhecer Deus atravéz do próprio raciocinio; nem maior ignorância, já que não é capaz de comprêender a linguagem imediata que as coisas ensinam à quem as olha com simplicidade.

Pensar com os sensos, sentir com o pensamento, com naturalidade.

Isto parece dizer o Poeta, superando todos os dualismos dos filosofos numa dimensão estética.
É nesta dimensão sensorial que torna-se arduo a A. Caeiro crêr em um Deus personalizado, que não se ouve e não se vê, e que por estas razões lhe parece non-conhecivel. E no caso se quizesse resolver a questão identificando Deus com a Natureza, ou melhor, com as entidades que a compõem - Caeiro define esta prospectiva mais congenial a si -, voltariamos a uma espécie de Misticismo Naturalistico o qual tornaria totalmente supérflua a noção de Deus. Flores  árvores  montes  sol  lua  águas  bastam a si mesmas e não serve uma divinização, pois não lhes acrescentaria nada.

Na contemplação do Universo animado por ele-mesmo, pluralidade de elementos em constante renovamento num presente eterno, sem deixar traços, como o vôo de um pássaro ou uma briza de primavera, mergulha o Homem e o Poeta, querendo tornar-se Coisa, como se  fosse ele mesmo um fenomeno natural, que vive do Vitalismo indiferente da Natureza.
A côr e o movimento existem por si mesmos e como tais manifestam-se nas coisas. Como os motos do animo. Por isso, cada instante da jornada, cada aspecto da vida há o mesmo valor de um outro, cada estado d'animo feliz ou infeliz, triste ou alegre, de satisfação ou de saudade possui o mesmo direito de existir e de manifestar-se que todos os outros; igualmente acontece no Universo fenomênico que chamamos alvorada  e  pôr-do-sol,  dias  e  noites, luar  e  flores,  e  outras coisas.

Com o progredir de tal visão do Mundo, Caeiro afirma que cada condição que vive é natural, tanto a saúde quanto a enfermidade, sendo o Homem despido das suas ilusões e falsas concepções, nada mais que um animal humano produzido pela Natureza, que vive e as vezes sofre. Então se poderia dizer que quando o Poeta atravessa condições psicofisicas diversas, as vezes discordantes e contraditorias entre si, experimentando sensações e tendo pensamentos contrastantes, todavia a alma mantém a sua integridade, mostra somente um outro lado de si; como um que viajando, as vezes de noite, descrevesse em versos a paisagem que vê.

O avesso da alma,  diz o Poeta.

Todavia, é preciso saber ver para poder interpretar a Natureza, consciente de que a Natureza não é uma linguagem no senso em que comumente se entende tal palavra, porém pode ser narrada pelo meio da linguagem poetica, para que possa ser percebida pelos homens dos sensos entorpecidos.
Aos seus leitores Caeiro envia uma saudação profunda, mas de longe e faz augúrios para eles: que tenham dias de sol e de chuva, quando precisa, e tenham um canto tranqüilo e seguro no qual sentar-se a ler os seus versos. À eles apresenta-se como o cantor da espontaneidade, alheio ao misticismo louco e doente de certos poetas, que com o pretesto de falar da alma das coisas, falam só deles mesmos e das próprias falsas crenças.
Aos discursos de suposta sabedoria e aos versos construidos à régua e compasso, o poeta Caeiro prefere a forma singela e franca, não se põe interrogativos nem dá respostas, não há oficio, porém aprendendo a desaprender o que aprendeu, assim como sente assim escreve.

A Natureza no seu non-consciente agir torna-se para ele um grande modelo vivente, fonte de inspiração na maneira de poetar.
Então, da mesma maneira daquilo que acontece na Natureza, os versos fluem espontâneamente, em um casual desabrochar sem regras estabelecidas de estilo ou de rima, mas encostando palavras à ideias sem nenhuma mediação. (Pois, se nem sequer na Natureza existem duas árvores iguais, por quê ocupar-se com as rimas?).

O Poeta é como um cego teimoso que caminha às apalpadelas, sentindo o caminho entre caidas e alçadas e escrever versos é como empreender uma viagem cheia de maravilhosos descobrimentos, às vezes acertando e outras errando.
Finalmente, quando a obra chegou ao final, deixa de pertencer ao seu autor, assim é o destino de todas as coisas, passarem, e nisto não há alegria nem tristeza, mas somente o natural interagir das coisas umas com as outras e o eterno restar de cada uma nesse contínuo mutamento de forma.
Destacando-se dos seus versos para oferecê-los aos leitores, como é justo que se faça, o Poeta dá um passo atraz, mesmo se segue vivendo neles no Universo da Poesia.

 



Nega decisamente di essere un pastore, Alberto Caeiro, eppure si professa tale: pastore d'animo, guardiano di pensieri.

E come é costume dei pastori andar percorrendo strade e sentieri e pianure e colline della Madre-Terra al variare delle stagioni, seguendo il gregge, così il Poeta si addentra nella appassionata meditazione sulla Natura, quasi in un soliloquio, osservando i suoi pensieri con lo stesso pacato distacco con cui il pastore guarda il gregge. Il paesaggio naturale non percorso dalla gente e silenzioso é pieno di pace e ben si accorda con lo stato d'animo del Poeta, la cui solitudine interiore é altrettanto naturale ed é la sorgente della sua Poesia.

Scrivere versi non é la mia ambizione, dichiara, ma é un modo di esistere e di stare solo.
Si apre così il poema:"Il Guardiano di Greggi" e già nelle prime poesie compaiono i temi che saranno ricorrenti nell'intera opera: il rapporto con la Natura, il rapporto dell'Uomo e del Poeta con se stesso, all'interno di una singolare concezione del Mondo.
Alla Natura, alle meravigliose entità che la compongono e che si rivelano a un osservatore dallo sguardo stupito, come quello di un bambino che vede per la prima volta il Mondo, A. Caeiro rivolge un canto d'amore, ritenendo che di essa si possa solo avere "sentimento" senza pensiero alcuno. La Natura é per noi non tanto perché la conosciamo, ma perché la avvertiamo con i sensi e la amiamo senza nulla chiederci. Esiste per noi in quanto viene percepita come fiori  alberi  erbe animali e altri elementi naturali, semplicemente, senza sforzo né pensiero.
D'altro canto, pensare rende infelice il Poeta.
E pensare la Natura é inutile e fuorviante: si illude chi crede di coglierne in tal modo il senso profondo, la sua intima essenza.

Non c'è niente da capire perché non ha misteri; le cose sono ciò che sembrano realmente: non hanno significato, ma solo esistenza.
Né la Natura ha coscienza di sé, eppure gli alberi vivono. spontaneamente, e danno frutti secondo le stagioni. E l'uomo appena se ne accorge. Ma se, vedendo e sentendo, si fermasse a pensare a ciò che dà origine alle sue sensazioni e al Fine ultimo delle cose, non potrebbe più godere, immediatamente, del quotidiano spettacolo che la Natura spontaneamente gli offre.

Emerge dai versi di A. Caeiro, dal punto di vista dei contenuti della conoscenza, che noi possiamo conoscere la Natura solo come Esteriorità, perché la Natura non ha che questa, non ha un "dentro".   In tale ottica, il pensiero razionale é non conoscenza della realtà; chi infatti dice di conoscere non fa altro che trasferire al "conosciuto" le proprie emozioni, le proprie opinioni, i propri pensieri e il suo stesso modo di pensare. Ma così facendo nulla sa e conosce della realtà.
E non vi é ambizione intellettuale più grande di quella di chi tenta di conoscere Dio attraverso il proprio ragionamento; né maggiore ignoranza, perché non sa capire il linguaggio immediato che le cose insegnano a chi le guarda con semplicità.

Pensare con i sensi, sentire con il pensiero, con naturalezza.

Questo sembra voler dire il Poeta, superando tutti i dualismi dei filosofi in una dimensione estetica.
Ma è proprio tale dimensione sensoriale che rende arduo a Caeiro credere in un Dio personale che non si sente e non si vede e che per ciò stesso gli appare inconoscibile. Laddove si risolvesse la questione identificando Dio con la Natura, o meglio con le entità che la compongono - prospettiva, questa, che Caeiro definisce più congeniale a sé - tuttavia si cadrebbe in una sorta di Misticismo Naturalistico che rende del tutto superflua la nozione di Dio.  Fiori  alberi  monti   sole  luna  acque bastano a se stessi e nulla aggiunge a ciò chi li volesse divinizzare.

Nella contemplazione dell'Universo da se stesso animato, pluralità di elementi che si rinnovano incessantemente in un eterno presente senza lasciare traccia, come il volo di un uccello o una brezza primaverile, si immerge l'Uomo e il Poeta, volendo farsi Cosa, quasi fosse egli stesso un fenomeno naturale, che vive del Vitalismo indifferente presente nella Natura.
Folclore e movimento esistono in quanto tali e si manifestano nelle cose. Come i moti dell'animo. Perciò ogni istante della giornata, ogni aspetto della vita ha lo stesso valore di un altro, ogni stato d'animo felice o infelice, triste o gioioso, di pienezza o di mancanza ha lo stesso diritto di esistere e di manifestarsi di qualunque altro, non diversamente da quanto accade nell'Universo fenomenico, che chiamiamo albe  e  tramonti  e  dì  e  notti  e chiari di luna e  fiori  e  altro ancora.

Nel progredire di tale visione del Mondo, Caeiro arriva ad affermare che ogni condizione che vive é naturale, la salute come la malattia, non essendo l'uomo, spogliato delle sue illusioni e false concezioni, nient'altro che un animale umano prodotto dalla Natura, che vive e a volte soffre.
Così si potrebbe dire che quando il Poeta attraversa stati psicofisici diversi, talvolta discordanti e contradditori tra loro, provando sensazioni e avendo pensieri contrastanti, tuttavia l'anima non perde la sua integrità, mostra solo un altro lato di sé; come uno che facendo un viaggio, a volte di notte, descrivesse in versi il paesaggio che vede.

Il rovescio dell'anima, dice il Poeta.

Peraltro, bisogna saper vedere per farsi interprete della Natura, consapevole che la Natura non é un linguaggio nel senso in cui comunemente si intende tale parola, ma può essere raccontata attraverso il linguaggio poetico, perché possa essere percepita dagli uomini dai sensi intorpiditi.
Ai suoi lettori Caeiro rivolge un saluto profondo, ma da lontano e fa voti per loro: che abbiano giorni di sole e di pioggia, quando serve, e un angolo tranquillo e sicuro in cui sostare a leggere i suoi versi. Ad essi vuole presentarsi come il cantore della naturalezza, alieno dal misticismo folle e malato di certi poeti che, con il pretesto di parlare dell'anima delle cose, parlano solo di se stessi e delle proprie false credenze.
Ai discorsi di pretesa sapienza e ai versi costruiti a tavolino, il poeta Caeiro preferisce la semplicità schietta, non si pone interrogativi né dà risposte, non ha mestiere, ma, imparando a disapprendere ciò che ha imparato, come sente così scrive.

La Natura nel suo inconsapevole agire diventa per lui come un grande modello vivente, fonte de ispirazione nel modo di poetare.
Così, alla stessa maniera di quanto accade in Natura, i versi fluiscono spontaneamente, in una casuale fioritura senza regole precostituite di stile o di rima, ma accostando parole a idee senza mediazione alcuna. (E poi, neppure in Natura ci sono due alberi uguali, dunque perché occuparsi delle rime?).

Il Poeta é come un cieco caparbio che procede a tentoni sentendo la strada tra cadute e risalite e scrivere versi é come intraprendere un viaggio pieno di sorprendenti scoperte, talvolta colpendo nel segno talaltra sbagliando.
Finalmente, quando l'opera é compiuta, cessa di appartenere al suo autore, é il destino di tutte le cose passare e non c'é allegria né tristezza in questo, ma solo il naturale disperdersi delle cose le une nelle altre e l'eterno permanere di ciascuna nel continuo mutamento di forma.
Distaccandosi dai suoi versi, per offrirli come é giusto ai lettori, il Poeta fa un passo indietro pur continuando a vivere in essi nell'Universo della Poesia.