Um mundo paralelo      Un mondo parallelo


Entre os numerosos e variados interesses culturais de Lobato, um lugar especial ocupa a literatura para crianças, à qual ele se aplica com dedicação desde 1921, ano da publicação das Reinações de Narizinho, as traquinadas da menina do narizinho arrebitado, criada em 1920.
O núcleo inventivo em volta do qual rodeiam as histórias de Narizinho e dos seus amigos é o Sítio do Picapau Amarelo, lugar imaginário onde tudo é possivel. Ninguém sabe exatamente onde ele encontra-se, mas, como todos os lugares fabulosos, existe e isto basta.

A patroa do sítio é dona Benta, avó de Pedrinho e Narizinho, figura do adulto que aceita e acompanha con confiança a imaginação infantil, educando com suavidade através do diálogo e estímulos positivos.
Mestra de vida e narradora infatigável, dona Benta faz uso dos contos para transmitir informações e experiências do vivido coletivo, para explicar conceitos e dispensar ensinamentos morais.
As narrações se desenvolvem em alguns ambientes da casa do Picapau Amarelo, lugar dos afetos e da memória, onde dona Benta vive junto com seus netos e a cozinheira tia Nastácia, e onde organiza serões literários e didáticos sobre vários temas e debates abertos a todas as personagens, reais ou imaginárias, que comparecem no sítio.
A centralidade da casa é significativa do papel da família durante a infância.

A casa do Picapau Amarelo, embora, mesmo se concebida como espaço físico, há uma quarta dimensão que vai mais além do seu ser físico, na qual a realidade e a fantasia misturam-se num todo inextricável. É o ponto de vista da criança, que surge durante a narração e faz que, de repente, a sala não tenha mais paredes nem confins e nem sequer tenha diferença entre os ouvintes e as personagens narradas.
Tornam-se possíveis coisas tais como um passeio ao Pais das Fábulas, ou uma viagem num navio fantástico para conhecer ao vivo a Geografia, ou uma visita à Cidade da Gramática, onde também os verbos têm uma alma e conversam com os visitantes.

No Sítio do Picapau Amarelo as crianças de todos os tempos são representadas pelas duas personagens: Pedrinho e Narizinho.
O primeiro é um menino cheio de bom senso e grande inventiva, intervem a propósito nas conversações e já se entrevê nele a semente da futura racionalidade. Sabe controlar seu comportamento e é corajoso. Às vezes briga com Narizinho sobre a maneira de resolver um problema.
Narizinho é uma menina que tem ar de estouvada, rica de imaginação que a ajuda a resolver os problemas. Possui a lógica irrefutável das crianças e uma grande curiosidade, mesmo se muitas vezes seja duvidosa e um pouco temorosa.

Tia Nastacia, a cozinheira do sítio, está habitualmente na cozinha onde conversa com o louro. É uma mulher simples, do povo, preta, sem instrução, mas com bom senso. Atua juntamente com as outras personagens, ouvindo as histórias contadas desde a porta aberta da cozinha, ou participando na vida social e nas aventuras do grupo. Intervem na conversação só quando qualquer expressão particular a envolve, despertando nela o conhecimento da cultura popular autóctone, da qual é portadora. Transmite às crianças as tradições do Folclore brasileiro.

No mundo fantástico do Sítio do Picapau Amarelo estão também outras personagens, entre as quais os brinquedos das crianças, que si animam e compartilham as experiências deles.

Emilia é uma boneca de pano, que sabe falar. Petulante, vaidosa, presunçosa, polêmica, não sabe perder; impõe suas opiniões e quando se dá conta de não poder vencer, volta as costas e vai embora.
Curiosissima e belicosa, representa a voz crítica de Monteiro Lobato.

O Visconde de Sabugosa é um pequeno homem feito de sabugo de milho. Muito prudente e erudito, é o filósofo do grupo, para o qual destila gotas de sabedoria e oferece explicações científicas e opiniões técnicas sobre as questões que se apresentam. Nunca se ofende, pois é um homem superior cônscio da sua cultura, ainda que livresca e um pouco pedante, porém entende quando é o momento de retirar-se.
Na saga do Picapau Amarelo Monteiro Lobato atribui ao Visconde o papel de pioneiro do progresso, que, virando geologo e abrindo o primeiro poço de petróleo brasileiro nas terras do sítio, promove a favor dos pequenos leitores a campanha pelo petróleo nacional, já iniciada por Lobato noutras publicações para os adultos.

No sítio não faltam os animais.
O Conselheiro é um burro falante, que com sabedoria dispensa conselhos e advertências às crianças e as acompanha em muitas aventuras. Na sua garupa, com uma pitada de pó de pirlimpimpim, Narizinho, Pedrinho, tia Nastacia, o Visconde e Emilia empreendem a Viagem ao Céu e vão aprendendo a Astronomia.

Acha-se também o porquinho Rabicó e o rinoceronte Quindim, um pacífico paquiderme fugido de um circo, que Pedrinho encontra, um dia, voltando da caça às onças organizada na mata nos arredores do sítio.
Quindim é uma personagem extraordinária, diferente da maneira como aparece em geral um rinoceronte. Não obstante a sua dimensão e a famosa irritabilidade da sua espécie, é pacatíssimo, conhece e explica maravilhosamente as regras da Gramática e sobre a sua pele dura se pode escrever como num quadro-negro.
Além disso, é um excelente meio de transporte para o grupo do sítio.

Assim, rindo e brincando, refletindo e aprendendo, pondo tudo em discussão, vai passando a vida das personagens do Sítio do Picapau Amarelo.

A história, porém, não acaba aqui.
À narração de um mundo paralelo, onde as crianças estão no gozo do direito de cidadania e as bonecas e os burros falam e ensinam como os seres humanos, se acrescenta o ecletismo de Monteiro Lobato.
O Sítio do Picapau Amarelo torna-se a encruzilhada da imaginação para as personagens de todas as fábulas e os contos conhecidos, hospedados por dona Benta nas terras ao redor do sítio, adquiridas com este propósito.

Suspendidas as categorias lógicas de espaço e tempo, assim como acontece no eterno presente do imaginário infantil, a narração de Monteiro Lobato atua livremente sob a influência da literatura de várias épocas.
Passando das Fábulas à Mitologia grega, do Romance picaresco aos contos de viagem e às histórias do Folclore brasileiro, ele reveste as personagens com panos brasileiros, efetuando uma releitura muito pessoal, em chave nacional, dos acontecimentos e dos ambientes, integrados no núcleo narrativo original lobatiano.

O elemento unificador em cada digressão, adaptação, releitura e, afinal, no heterogêneo mundo literário e fantástico no qual se move Monteiro Lobato, é constituído, porém, da caracterização das personagens ligada à afabulação.
O conto, o uso da palavra com funções lúdicas e didascálicas, é um elemento recorrente e significativo, seja das personagens humanas, seja daquelas animadas ou dos animais.

Escrita entre 1920 e 1944, a literatura para crianças de Monteiro Lobato faz da palavra e da fantasia livre um programa de vida (para os habitantes do Picapau Amarelo e também para o autor), paradoxalmente no mesmo período no qual, no Brasil, a liberdade de palavra, ação e pensamento é posta em discussão pelas formas de ditadura, sujeição económica e oportunismo político, contra as quais o escritor combateu sempre.
 

All'interno dei molteplici e variegati interessi culturali di Lobato, un posto speciale occupa la letteratura per l'infanzia, alla quale egli si dedica con passione fin dal 1921, anno di pubblicazione delle Reinações de Narizinho, le monellerie della bambina dal nasino all'insù, creata nel 1920.
Il nucleo inventivo attorno al quale ruotano le storie di Narizinho e dei suoi amici è la Fattoria del Picchio Giallo, luogo immaginario ove tutto è possibile. Nessuno sa esattamente dove essa si trovi, ma, come tutti i luoghi favolosi, esiste e tanto basta.

La padrona della fattoria è donna Benta, nonna di Pedrinho e Narizinho, figura dell'adulto che accetta e accompagna con fiducia l'immaginazione infantile, educando con dolcezza attraverso il dialogo e i rinforzi positivi.
Maestra di vita e narratrice infaticabile, donna Benta usa il racconto per trasmettere informazioni ed esperienze del vissuto collettivo, per spiegare concetti e dispensare insegnamenti morali.
Le narrazioni si svolgono in alcuni ambienti della casa del Picchio Giallo, luogo degli affetti e della memoria, dove donna Benta vive insieme ai suoi nipoti e alla cuoca zia Nastácia, e dove organizza serate letterarie e didattiche su vari temi e dibattiti aperti a tutti i personaggi, reali o di fantasia, che compaiono nella fattoria.
La centralità della casa è significativa del ruolo della famiglia nell'infanzia.

La casa del Picchio Giallo, tuttavia, anche se concepita come spazio fisico, ha una quarta dimensione che va oltre la sua fisicità, nella quale la realtà e la fantasia si mescolano in un tutto inestricabile. È il punto di vista del bambino, che irrompe durante il racconto e fa sì che, da un momento all'altro, la stanza non abbia più pareti nè confini e non ci sia differenza tra gli ascoltatori e i personaggi narrati.
Diventano possibili cose come una passeggiata nel Paese delle Favole, o un viaggio su una nave fantastica per conoscere dal vivo la Geografia, o una visita alla Città della Grammatica, dove anche i verbi hanno un'anima e conversano con i visitatori.

Nella Fattoria del Picchio Giallo i bambini di tutti i tempi sono rappresentati da due personaggi: Pedrinho e Narizinho.
Il primo è un bambino pieno di buon senso e grande inventiva, interviene a proposito nelle conversazioni e si intravvede già in lui il seme della futura razionalità. Sa controllare il suo comportamento ed è coraggioso. Qualche volta litiga con Narizinho sulla maniera di risolvere un problema.
Narizinho è una bambina dall'aria un pò sventata, ricca di immaginazione, con cui spesso risolve i problemi. Possiede la logica irrefutabile dei bambini e una grande curiosità, anche se spesso è dubbiosa e un po' timorosa.

Zia Nastacia, la cuoca della fattoria, sta abitualmente in cucina, dove chiacchiera con il pappagallo. È una popolana negra, senza istruzione, ma di buon senso. Interagisce con gli altri personaggi, ascoltando le storie narrate dalla porta aperta della cucina o partecipando alla vita sociale e alle avventure del gruppo. Interviene nella conversazione solo quando qualche espressione particolare la coinvolge, risvegliando in lei la conoscenza della cultura popolare autoctona, di cui è portatrice. Trasmette ai bambini le tradizioni del Folclore brasiliano.

Nel mondo fantastico della Fattoria del Picchio Giallo ci sono anche altri personaggi, tra i quali i giocattoli dei bambini, che si animano e condividono le loro esperienze.

Emilia è una bambola di panno, che sa parlare. Petulante, vanitosa, presuntuosa, polemica, non sa perdere; impone le sue opinioni e quando si accorge di non poter vincere, gira le spalle e se ne va.
Curiosissima e battagliera, rappresenta la voce critica di Monteiro Lobato.

Il Visconte di Sabugosa è un omino fatto col midollo della pannocchia di mais. Prudentissimo e dotto, è il filosofo del gruppo, a vantaggio del quale distilla perle di sapienza e offre spiegazioni scientifiche e pareri tecnici sulle questioni che si presentano. Non si offende mai, da uomo superiore conscio della sua cultura, ancorché libresca e un po' pedante, ma capisce quando è il momento di ritirarsi in buon ordine.
Nella saga del Picchio Giallo Monteiro Lobato attribuisce al Visconte il ruolo di pioniere del progresso, che, trasformandosi in geologo e scavando il primo pozzo di petrolio brasiliano nei terreni della fattoria, promuove a favore dei piccoli lettori la campagna per il petrolio nazionale, già avviata da Lobato in altre pubblicazioni per gli adulti.

Nella fattoria non mancano gli animali.
Il Consigliere è un asino parlante, che con saggezza dispensa consigli e avvertimenti ai bambini e li accompagna in molte avventure. Sulla sua groppa, con un pizzico di polvere di pirimpimpino, Narizinho e Pedrinho, zia Nastacia, il Visconte ed Emilia intraprendono il Viaggio al Cielo ed imparano l'Astronomia.

Vi è anche il porcellino Rabicò e il rinoceronte Quindim, un pacifico pachiderma scappato da un circo, che Pedrinho incontra, un giorno, al ritorno dalla caccia ai giaguari organizzata nel bosco attorno alla fattoria.
Quindim è un personaggio straordinario, diverso dal modo come appare generalmente un rinoceronte. A dispetto della sua mole e della famosa irritabilità della sua specie, è pacatissimo, conosce e spiega a meraviglia le regole della Grammatica e sulla sua pelle dura si può scrivere come su una lavagna di ardesia.
Inoltre, è un eccellente mezzo di trasporto per il gruppetto della fattoria.

Così, ridendo e giocando, riflettendo e imparando, mettendo tutto in discussione, trascorre la vita dei personaggi della Fattoria del Picchio Giallo.

La storia, però, non finisce qui.
Alla narrazione di un mondo parallelo, dove i bambini hanno diritto di cittadinanza e le bambole e gli asini parlano e insegnano come gli esseri umani, si aggiunge l'eclettismo di Monteiro Lobato.
La Fattoria del Picchio Giallo diventa il crocevia dell'immaginazione per i personaggi di tutte le favole e racconti conosciuti, ospitati da donna Benta nelle terre circostanti, acquistate per questo scopo.

Sospese le categorie logiche di spazio e tempo, come avviene nell'eterno presente dell'immaginario infantile, la narrativa di Monteiro Lobato si ispira liberamente alla letteratura di varie epoche.
Passando dalle Favole alla Mitologia greca, dal Romanzo picaresco ai racconti di viaggio e alle storie del Folclore brasiliano, egli riveste i personaggi di panni brasiliani, realizzando una personalissima rilettura, in chiave nazionale, delle vicende e degli ambienti, integrati nel nucleo narrativo originale lobatiano.

L'elemento unificante di ogni digressione, adattamento, rilettura e, in definitiva, dell'eterogeneo mondo letterario e fantastico in cui si muove Monteiro Lobato, è costituito, però, dalla caratterizzazione dei personaggi legata all'affabulazione.
Il racconto, l'uso della parola con finalità ludiche e didascaliche, è un elemento ricorrente e significativo, sia dei personaggi umani, sia di quelli animati o degli animali.

Scritta tra il 1920 e il 1944, la letteratura per l'infanzia di Monteiro Lobato fa della parola e della libera fantasia un programma di vita (per gli abitanti del Picchio Giallo, ma anche per l'autore), paradossalmente nello stesso periodo in cui, in Brasile, la libertà di parola, di azione e di pensiero è messa in discussione dalle forme di dittatura, sudditanza economica e opportunismo politico, contro le quali lo scrittore combatté sempre.