O
ano de 1938 é muito importante para Cecília Meireles. Ela levanta seu
espirito enfraquecido pelo luto e cansado por muito trabalho durante
os últimos tres anos e solta um canto.
Nasce Viagem, uma compilação de poesias de tom lírico, que recebe homenagens
em pátria, mas é publicada só no ano seguinte (1939) em Lisboa.
O epigrama com que inicia a obra é a proposição do tema que vai ser desenvolvido.
Viagemé um conjunto de cantos comemorativos, com os quais a autora quer
fazer que os leitores de todos os tempos conheçam quem, com a sua ausência calou-se.
A obra si desenvolve, porém, ao longo de uma outra linha tematica, à qual faz referência
o titulo de maneira significativa.
Viagemé de fato, o caminho de uma alma que si quebra debaixo do peso de
uma dor imaensa, a ausência do amado, e vai a procura de si mesma. Dispersa nos inumeráveis
fragmentos da memória, nos quais espelha-se sem ver-se, percorre e repercorre momentos
de amor, dor e elaboração do luto, até a petrificação, o alheiamento e por fim o
desprendimento.
Como no célebre filme de Luchino Visconti, Senso (1954),no qual a heroína
se espelha, apoiada no poço de uma noturna praça veneziana, para Cecília Meireles
também, o espelho e a água são elementos alusivos de uma condição interior, que o
sofrimento torna frágil.
Na correnteza da sua própria consciência ou na névoa de uma turbada inconsciência,
navegam, como num sonho continuamente sonhado, naves revestidas de espelhos. Os seus
reflexos são as projeções do seu próprio Sê, máscaras pirandelianas, que o espelho-vida
devolve e a água da memória devora.
Daquilo que um era antes, nada parece permanecer; no progressivo e inexóravel desfazer-se
das suas próprias certezas, os espelhos sem imagem refletem o vazio interior, a ausência
de si mesmo.
A metáfora da água ocorre com inumeráveis facetas. É água da memória, água de rios
de lágrimas, gotas de chuva que lavam, caindo das pestanas, o peito do amado.
É mar. Não só pelo óbvio referimento à viagem, evocado pelo navegar, pelo espaço
e pelos meios para a navegação – barcas sem rumo, ondas, areias, ventos e velas e
pontos cardeais que não se vêem mais – mas, também, porque o mar, na sua eterna instabilidade,
traz e leva embora pessoas e coisas.
Na orla do mar as mulheres portuguesas cantavam cantigas de amor e de
amigo.
Com rítmos e formas de estilo medieval, a poesia de Viagem si desenrola
para celebrar e ir recordando o amado.
Não é mais o tempo da grande dor insensata, que acabou o coração e encadeou a língua.
Agora é tempo de tornar firmes as mãos trêmulas e levantar a cabeça com a insensibilidade
de uma estatua de pedra, para tornar-se só recordação.
No crisol do sofrimento a poesia si refina e trovar é ao mesmo tempo viver e morrer.
Cantar o amado é no início apenas o murmúrio de um nome, que tem o ritmo e o sôpro
d respiro. Olhos que fitam longe percorrem como uma carícia o seu corpo, soltando
ondas de saudade eterna na sua direção.
Cantar é o maior dom que lhe se pode fazer, já que a arte de amar é exatamente a
de ser poeta. E uma canção, ainda que tardia, pode ser um amparo, que com coração
materno vem oferecido a quem não teve paz.
No incessante coloquio interior para com o amado, no qual se entrelaçãm momentos
de assombrada dor, coitas de amor, lembranças e palavras de triste esperança, Cecília
se faz coisa, uma pequena coisa para oferecer, como víatico, a quem deve empreênder
uma viagem para um destino muito mais longinquo.
Com os braços abertos num abraço sem fim, é pródiga de consolações, promessas, conselhos,
para enfrentarem ainda juntos, numa intimidade espiritual, a inefável distância,
enquanto o tempo concedido si consuma
Os textos poeticos de Viagem apresentam uma estrutura complicada, que retoma
o esquema do paralelismo medieval, adaptando-o a uma invenção literaria
mais rica.
A análise introspectiva do vivído desenvolve-se através de contradições conceituais,
que mostram o contraste dos sentimentos: viver-morrer, bem-mal, alegria-dor, sonho-realidade,
querer e não-querer o que se quis intensamente. Mas também através dos temas clássicos
dos cantares portugueses: o mar, a melancolia, a ausência e o sentimento, doce e
amargo ao mesmo tempo, da saudade.
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L'anno
1938 è assai importante per Cecilia Meireles. Ella risolleva lo spirito
prostrato dal lutto e affaticato da molto lavoro durante gli ultimi tre
anni e scioglie un canto.
Nasce Viaggio, una raccolta di poesie di tono lirico, che riceve riconoscimenti
in patria, ma è pubblicata solo l’anno seguente (1939) a Lisbona.
L'̵epigramma con cui si apre l’opera è la proposizione del tema che sarà trattato.
Viaggio è un insieme di canti celebrativi, con cui l’autrice vuole far conoscere
ai lettori di tutti i tempi colui che, con la sua assenza, ha perso la voce.
L'opera si sviluppa, però, anche lungo un’altra linea tematica, a cui allude in maniera
significativa il titolo.
Viaggio è, infatti, il cammino di un’anima che si frantuma sotto il peso
di un immenso dolore, l’assenza dell’amato, e va alla ricerca di se stessa. Dispersa
negli innumerevoli frammenti della memoria, in cui l'eroina si specchia senza vedersi,
percorre e ripercorre momenti d’amore, dolore e elaborazione del lutto, fino alla
pietrificazione, all’estraneamento e infine al distacco.
Come nel celebre film di Luchino Visconti, Senso (1954); in cui l'eroina
si specchia, poggiata sul pozzo di una notturna piazza veneziana, anche per Cecilia
Meireles lo specchio e l'acqua sono elementi allusivi di una condizione interiore
resa fragile dalla sofferenza.
Nella corrente della propria coscienza o nella nebbia di una stranita incoscienza,
navigano, come in un sogno continuamente sognato, navi rivestite di specchi. I loro
riflessi sono le proiezioni del proprio Sé, maschere pirandelliane, che lo specchio-vita
restituisce e l’acqua della memoria divora.
Di ciò che uno era prima, nulla sembra conservarsi; nel progressivo e inesorabile
sfaldarsi delle proprie certezze, gli specchi senza immagine riflettono il vuoto
interiore, l’assenza di sé.
La metafora dell’acqua occorre con innumerevoli sfaccettature. È acqua della memoria,
acqua di fiumi di lacrime, gocce di pioggia che lavano, cadendo dalle ciglia, il
petto dell’amato.
È mare. Non solo per l’ovvio riferimento al viaggio, richiamato dal navigare, dallo
spazio e dagli strumenti della navigazione - barche senza timone, onde, spiagge,
venti e vele, punti cardinali che non si vedono più - ma anche perché il mare, nella
sua eterna instabilità, porta e prende persone e cose.
Sulla riva del mare le donne portoghesi cantavano canzoni d’amore e d’amico.
Con ritmi e forme medievaleggianti, la poesia di Viaggio si snoda per celebrare
e ricordare l’amato.
Non è più il tempo del grande dolore insensato, che ha consumato il cuore e incatenato
la lingua. Ora è tempo di fermare le mani tremanti e levare il capo con l’insensibilità
di una statua di pietra, per essere solo capacità di ricordare.
Nel crogiolo della sofferenza la poesia si raffina e cantare è vita e morte allo
stesso tempo.
Cantare l’amato è all’inizio appena il mormorio di un nome che ha il ritmo e l’afflato
del respiro. Occhi che guardano lontano percorrono come una carezza il suo corpo,
sciogliendo onde di nostalgia eterna verso di lui.
Cantare è il dono più grande che gli si possa fare, poiché l’arte di amare è esattamente
quella di essere poeta. E una canzone, ancorché tardiva, può essere un rifugio, che
con cuore materno viene offerto a chi non ebbe pace.
Nell'incessante colloquio interiore con l’amato, in cui si intrecciano momenti di
stupefatto dolore, pene d’amore, ricordi e parole di mesta speranza, Cecilia si fa
cosa, una piccola cosa da offrire, come viatico, a chi deve intraprendere un viaggio
ben più lontano.
Con le braccia aperte in un abbraccio senza fine, è prodiga di
consolazioni, di promesse, di consigli, per affrontare ancora insieme, in una spirituale
intimità, l’ineffabile lontananza, mentre il tempo concesso si consuma.
I testi poetici di Viaggio presentano una struttura complessa, che riprende
lo schema del parallelismo medievale adattandolo a una invenzione letteraria
più ricca.
L'analisi introspettiva del vissuto si sviluppa attraverso dualismi e opposizioni
concettuali, che esprimono il contrasto dei sentimenti: vita-morte, bene-male, gioia-dolore,
sogno realtà, volere e disvolere ciò che si è fortemente voluto; ma anche i temi
classici dei cantari portoghesi: il mare, la malinconia, la lontananza e il sentimento,
dolce e amaro allo stesso tempo, della nostalgia.
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